IMS convida: Coronário - Editora Peirópolis

IMS convida: Coronário

Coronário é uma obra de net art sobre a experiência cultural do coronavírus, atentando para seu impacto na linguagem e para a naturalização da vigilância no cotidiano. O ponto de partida do Coronário é um conjunto de 25 palavras popularizadas no contexto da Covid-19, como álcool gel, home office, testar positivo e pandemia, para as quais oferece um pequeno glossário.

Um mapa de calor verifica dinamicamente a atenção do público às palavras que listamos como componentes do léxico do coronavírus. As mais acessadas pelo público mudam de cor, numa escala que varia do azul (mais frias) ao vermelho (mais quentes e, portanto, mais acessadas).

Esses mapas de calor tornaram-se imagens recorrentes no contexto da Covid-19 e podem ser interpretados como uma das imagens-chave do contexto pandêmico. Carregados de sentido, no âmbito das estéticas da vigilância, os mapas de calor não apenas monitoram a fisiologia do corpo no espaço, mas são usados também como uma ferramenta de rastreamento do comportamento do público diante de um site.

Coronário apropria-se do vocabulário visual do coronavírus para fazer um exercício crítico de “vigilância ao vivo”. Com isso, dá ao público a oportunidade de ver um procedimento corriqueiro de monitoramento de seus modos de acessar a Internet, geralmente invisível e ignorado. Ao mesmo tempo, o projeto discute o capital simbólico da atenção e o seu papel estruturante na economia do olhar que rege o mundo digital.

Acesse o Coronário

 

Sobre o projeto

Coronário é um projeto de net art, na forma de um ensaio hipertextual, sobre a experiência cultural do coronavírus. Devido à postura negacionista da pandemia pelo presidente Bolsonaro, no Brasil essa experiência ganhou traços particulares, sem deixar de dialogar com o âmbito global. O fenômeno é lido aqui por meio de três pontos de vista: a linguagem, a mediação do Google na operação do cotidiano e as estéticas da vigilância.

O ponto de partida do Coronário é um conjunto de 25 palavras popularizadas no contexto da Covid-19, como álcool gel, home office e pandemia, para as quais oferece um pequeno glossário.

A lente do Google

A determinação do conjunto com 25 palavras obedece à lógica do Google Trends (o buscador de tendências de pesquisa da Google, hoje Alphabet). É esse o número de respostas que o programa gera para cada consulta. No caso do Coronário, as palavras selecionadas foram submetidas ao Google Trends, a fim de verificar o interesse que mobilizaram antes e depois da propagação do coronavírus.

É fato que o Google Search Engine (o programa de busca da Google) não é um espelho das dinâmicas sociais. Contudo, é um indicador das preocupações e interesses sociais em um dado momento.

Vigilância ao Vivo Show

Um mapa de calor verifica dinamicamente a atenção do público às palavras que listamos como componentes do léxico do coronavírus. As mais acessadas pelo público mudam de cor, numa escala que varia do azul (mais frias) ao vermelho (mais quentes e, portanto, mais acessadas).

Esses mapas de calor tornaram-se imagens recorrentes no contexto da Covid-19 e podem ser interpretadas como uma das imagens-chave do contexto pandêmico. Carregados de sentido, no âmbito das estéticas da vigilância, os mapas de calor não apenas monitoram a fisiologia do corpo no espaço, mas são usados também como uma ferramenta de rastreamento do comportamento do público diante de um site.

Importante compreender que no contexto da “dataveillance” (vigilância de dados) contemporânea, não é o indivíduo o foco, mas sua integração a um padrão. As manchas de calor não são resultantes, portanto, de interações básicas, em processos de ação e reação. Elas operam de forma relacional, indicando a distribuição da atenção de todo o público deste site, incorporando as interações individuais na constituição de padrões e tendências coletivas.

Cultura do Coronavírus

Coronário apropria-se do vocabulário visual do coronavírus para fazer um exercício crítico de “vigilância ao vivo”. Com isso, dá ao público a oportunidade de ver um procedimento corriqueiro de monitoramento de seus modos de acessar a Internet, geralmente invisível e ignorado. Ao mesmo tempo, o projeto discute o capital simbólico da atenção e o seu papel estruturante na economia do olhar que rege o mundo digital.

Por fim, ao interpretar o coronavírus no âmbito da cultura, partindo do seu léxico, o Coronário assume que estamos diante não apenas de um dos mais graves problemas de saúde pública da história. Estamos também em um momento de profundas transformações sociais e econômicas locais e globais, catalisadas pela pandemia.

Giselle Beiguelman, abril 2020

Obra criada para o programa IMS Convida (Instituto Moreira Salles)

 

Sobre Giselle Beiguelman

Giselle Beiguelman é autora dos premiados O livro depois do livro, Egoscópio e Paisagem, artista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e coordenadora do seu curso de Design (2013-2015). Seu trabalho inclui intervenções em espaços públicos, projetos de rede e aplicações de arte móvel, exibidos internacionalmente nos principais museus de artemídia, centros de pesquisa e espaços de arte contemporânea , como ZKM (Karlsruhe, Alemanha), galery@Calit2 (UCSD , EUA) e Bienal de São Paulo. Foi curadora de Tecnofagias – 3a Mostra 3M de Arte Digital, entre outras mostras, e é editora da revista seLecT. Em 2014 foi convidada pelo The Webby Awards, International Academy of Digital Arts and Sciences, World Wide Web Foundation e Tim Berners-Lee para integrar um seleto grupo de dez artistas internacionais no projeto The Web at 25, comemorativo dos 25 anos da Internet.

Organizadora de Futuros possíveis: Arte, museus e arquivos digitais, um livro bilíngue que discute estratégias e metodologias para o armazenamento e preservação de arte digital e processos de digitalização de acervos, incluindo também estudos sobre novas formas de organização e disponibilização das informações em sistemas de visualização de dados. Além disso, Futuros Possíveis/Possible Futures apresenta estudos de caso e reflexões sobre o surgimento da estética do banco de dados e o campo emergente da curadoria de informação. O livro foi produzido em coedição com a Edusp.

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