A poesia como gênero literário e suas formas de existir - Editora Peirópolis

A poesia como gênero literário e suas formas de existir

Introdução

por Ana Elisa Ribeiro

A poesia é um gênero literário muito antigo, há tempos protagonista entre as outras formas literárias existentes, mas que também convive com uma diversidade interna. O que é isso? É dizer que há tipos de poesia, formas de poesia, modalidades que convivem há tempos imemoriais e que continuam presentes hoje, em nossa sociedade.

Embora atualmente possamos pensar primeiro na poesia que vem dos livros, como é o caso da Biblioteca Madrinha Lua, esse gênero também vem da oralidade, transita como poucos entre as duas possibilidades. Podemos falar, por exemplo, de uma poesia mais clássica, ocupada da metrificação e da rima, e podemos também falar do verso livre, de pé quebrado, sem perder o ritmo e a cadência, escritos ou falados. Podemos falar também no cordel, expressão considerada popular e extremamente forte em nossa cultura. A poesia também está na música, em muitos estilos, cantada, falada, recitada. Pode-se ler poesia, falar poesia, declamar poesia, menos ou mais teatralmente. Muitas performances são possíveis, assim como é possível que existam livros de poesia que servem melhor à leitura silenciosa, funcionam melhor vistos-lidos, enquanto outros podem e devem ser também falados/ouvidos.

Nos dias de hoje, a poesia continua forte entre nós, tanto nos livros, que são publicados em número considerável, em especial por casas editoriais pequenas, e na internet, quanto na arte de rua, nas intervenções urbanas, nas batalhas, nos slams. Embora seja um gênero às vezes evitado na escola, especialmente à medida que os alunos ficam mais velhos, trata-se de uma das expressões artísticas mais circulantes e populares que há, capaz de mobilizar, politizar, fazer pensar, mover e demover, arrebatar, e não apenas romanticamente.

Há algumas décadas, é notável a presença da poesia na internet: em blogs de poetas que ensaiam seus textos ali, em sites especializados, em e-books autopublicados, em espaços de poesia estritamente digital, isto é, uma poesia feita com os recursos desse ambiente e que só existem ali.

É muito interessante verificar as ambiguidades que a poesia guarda como gênero em circulação. Ao mesmo tempo que poetas sentem mais dificuldade de encontrar grandes editoras que invistam em suas obras, há e sempre houve uma movimentação independente muito poderosa, que pôs no mundo poesia em livros algumas vezes precários, em livros feitos à mão, em obras com poucos exemplares, mas que ganharam tanta importância quanto outros livros mais convencionais. Na atualidade, uma das possibilidades interessantes da poesia é o livro “cartonero”, que, mais do que um tipo de publicação, chega a ser uma espécie de movimento pela publicação sustentável e artesanal.

Também é interessante notar que embora todo e toda poeta ouçam que “poesia não vende”, é justamente esse o gênero que mais concorre em concursos e prêmios literários, por exemplo. Num dos maiores prêmios do Brasil, o Jabuti, a quantidade de livros de poesia supera em mais que o dobro o número de romances concorrentes, às vezes o triplo, dependendo do concurso. É sinal de que a poesia persiste, atravessa muitas questões que poderiam intimidá-la, mas ela não se intimida. Ela encontra jeitos de existir e de chegar a leitores e leitoras, mesmo quando é desconsiderada pelo “mercado”.

 

A Biblioteca Madrinha Lua

No caso da Biblioteca Madrinha Lua, nossa proposta é recheada de afeto e seriedade em relação a todo esse contexto. Nosso projeto é lançar livros impressos de poesia escrita por mulheres hoje, no Brasil, sem deixar de lado possibilidades multissemióticas. Nesse sentido, Amanda Ribeiro, uma de nossas poetas, também poeta no audiovisual, produziu videopoemas com a voz das poetas da coleção. Com as tecnologias disponíveis hoje, é possível fazer esse tipo de “tradução” com estudantes, com qualidade e baixa complexidade.

Nossa Biblioteca é inspirada na obra e na vida da poeta mineira Henriqueta Lisboa, que foi uma escritora atuante durante seis décadas, até o final de sua vida, no século XX. Publicou muitos livros, traduziu, foi diligente na troca de ideias e impressões com seus pares, mas, nos últimos anos de sua existência, ainda tinha dúvidas se seu esforço tinha valido a pena, pois talvez ainda se sentisse pouco prestigiada. Nós na Peirópolis temos uma resposta que mexe com nossos afetos e com nossos desejos: sim, valeu a pena. Madrinha Lua é o nome de um dos livros de Henriqueta, lançado em 1952, setenta anos atrás, e que agora dá nome a esta coleção de obras de autoras brasileiras vivas e muito atuantes, cada uma com sua voz lírica, seus temas, suas formas e seus trânsitos entre os modos de produzir, publicar e espalhar poesia.

A intenção da Peirópolis é reunir um conjunto de livros de poesia feita hoje, completamente contemporânea, que seja capaz de mostrar uma parte do que tem sido produzido no Brasil por pessoas que vivem em espaços geográficos diversos, inclusive considerando seus lugares de fala e seus trânsitos no país e fora dele. Eventualmente, algumas destas poetas se conhecem, trocam mensagens pelas redes sociais, acompanham-se mutuamente, o que explicita uma rede poética que Henriqueta Lisboa também experimentava, embora com as condições sociais e tecnológicas de outra época.

 

Cada livro, cada poeta

A primeira safra de livros da Biblioteca Madrinha Lua conta com oito obras de oito autoras brasileiras. Algumas delas optaram por produzir livros novos, inéditos, especialmente para a coleção, como é o caso de Líria Porto, Adriane Garcia ou Mariana Ianelli. Outras reuniram poemas inéditos e poemas já publicados, em outros livros ou em periódicos e na web, compondo um conjunto que só existe na Madrinha Lua.

Cada autor ou autora tem seu processo criativo, mas é comum que a poesia vá sendo escrita ao longo dos anos e, na hora em que se decide publicar, os textos sejam relidos e reunidos em um conjunto. Outro modo de fazer é produzir um livro mais temático ou com algum propósito mais projetado, como foi com Adriane Garcia e Lubi Prates.

Os livros da Biblioteca Madrinha Lua são muito diferentes entre si. Como todas as autoras são poetas experimentadas, embora nem sempre sejam famosas ou midiáticas, elas sabem manejar a palavra, mas não apenas. Elas conduzem seus conjuntos de textos, compõem seus livros e têm forte intencionalidade. Adriane Garcia quis pôr seu foco na natureza, na ecologia; Lubi Prates traz questões raciais e identitárias; Fernanda Bastos vem com a ambientação carnavalesca para também tocar em questões de nossa sociedade, Amanda Ribeiro toca em questões de amor e sexualidade, e assim por diante.

Embora muitas pessoas passem a vida achando que poesia é um texto suave, necessariamente bonito e doce, isso é uma grande inverdade, que inclusive pode reduzir o interesse de muita gente por este gênero literário. A poesia sempre foi e continua podendo ser extremamente firme, combativa e corajosa; pode abordar as coisas do mundo, ajudando a transformá-lo. Muitos poemas e letras de canções tornaram-se hinos que moveram multidões em momentos importantes de nossa história. Para citar alguns exemplos brasileiros, podemos pensar em Geraldo Vandré e a letra da canção “Para não dizer que não falei de flores”, durante o regime militar (e contra ele); Chico Buarque e canções como “Cálice” ou a redondilha “Paratodos”; Milton Nascimento e sua “Coração de estudante”, em tempos de redemocratização do país e no clamor por eleições diretas; ou na adaptação de Fagner para os versos de Cecília Meireles em “Canteiros”. Há infinitos outros exemplos, menos e mais recentes, em vários estilos musicais, se pensarmos que os versos podem ser vistos como uma existência distante e romântica, mas também são armas ou estandartes, escritos ou falados, geralmente conciliando escrita e voz, palavra e força.

A Biblioteca Madrinha Lua oferece um conjunto de livros que tocam muitos temas, podem provocar ou ensejar debates importantes para jovens e adultos, são retratos de nosso tempo, mas continuam em movimento, justamente por serem parte do nosso presente.

 

Sobre a leitura dos livros de poesia contemporânea

A escola tem de lidar, todos os dias, com pressões e tensões que vêm de fora, mas que também existem internamente. É comum que essas tensões sejam ambíguas, a exemplo do que ocorre com a leitura literária. Ao mesmo tempo que as leituras do cânone são criticadas e acusadas de serem difíceis e desestimularem o gosto pela leitura, há quem ache que apenas o que for canônico deve ocupar o tempo e o espaço da escola.

Por outro lado, enquanto alguns dizem que a literatura contemporânea seria mais adequada para o incentivo à leitura, trazendo proximidade e frescor aos jovens, há quem julgue que uma literatura ainda viva, que não passou por certos crivos e ainda não se canonizou, não serve para estar dentro da escola.

É difícil atuar nessa divergência, ora tentando atrair jovens para a leitura que pareça mais interessante, ora tendo de apresentar a eles textos mais tradicionais, já legitimados em muitas instâncias. No entanto, o que pensamos é que este é mais um campo ao qual faria bem o equilíbrio. Pensar de maneira não excludente pode ser favorável a todos e todas, isto é, buscando, na prática, conciliar o novo e o tradicional, inclusive abordando suas influências e heranças.

Enfrentando o preconceito e o desconhecimento daqueles e daquelas que, de fato, têm pouco envolvimento com a educação e a literatura, pode ser muito importante que a escola concilie propostas de leitura de autores e autoras contemporâneos, talvez até em diálogos próximos com eles ou elas, sem deixar de relacionar o que é feito hoje à existência de tradições e obras relevantes do passado, certamente lidas por muitos escritores e escritoras vivos/as.

Há ainda uma questão importante, que não podemos deixar de expressar: a escola é uma instância legitimadora dos textos literários e de seus autores e suas autoras. Não basta apenas receber, passivamente, o que já foi considerado bom e canônico. A escola é ativa nessa função e ajuda a chancelar e a dar a conhecer a literatura, mesmo no momento exato em que ela é produzida. A escola pode (e deve) estar em diálogo com a produção contemporânea, inclusive porque essa produção pode ter uma força mobilizadora e impulsionadora de muitas questões que dizem respeito à vida e ao futuro da juventude.

 

As poetas da Madrinha Lua

As oito autoras que abrem a Biblioteca Madrinha Lua são mulheres brasileiras cujos projetos de vida envolvem a atividade de serem escritoras, publicarem seus livros e participarem do debate literário nacional. São um grupo heterogêneo: algumas bem jovens, um pouco acima dos vinte anos, e outras mais maduras, com mais de trinta, quarenta ou sessenta anos. Elas vêm das capitais e do interior dos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio Grande do Norte. Além de podermos ler seus textos, nos envolvendo com suas vozes líricas tão diversas, também temos a chance de, nos videopoemas, ouvir seus falares e seus sotaques, com seus timbres muito próprios. São mulheres de raças, credos, formações, profissões e orientações sexuais diversos, e certamente será possível depreender isso de seus poemas, embora devamos evitar dois extremos da leitura literária: colar suas biografias a seus textos ou ler os poemas como se nada neles dissesse respeito a quem os escreve.

As poetas da Madrinha Lua são já autoras de alguns títulos, em muitos casos receberam prêmios e reconhecimentos importantes por suas obras, têm publicado com relativa frequência e, aqui reunidas, queremos que elas ganhem ainda mais força.

 

Literatura e poesia na BNCC

A palavra literatura aparece 60 vezes nas 600 páginas da Base Nacional Comum Curricular. Embora isso nos pareça pouco, dada a magnitude do documento, é importante notar que literatura aparece desde a educação infantil até o ensino médio, aumentando a amplitude e a complexidade das propostas ou das recomendações.

Na educação infantil, fala-se em mediação, desenvolvimento do gosto, ampliação do conhecimento de mundo e estímulo à imaginação (ver p. 42 do documento). No ensino fundamental, mais especificamente no ensino de linguagens e suas tecnologias, a literatura aparece mais, por exemplo, como mote ou gatilho para a produção de outros gêneros discursivos, inclusive e principalmente multimídia. À página 74, em um quadro sobre práticas leitoras, uso e reflexão, literatura aparece no item de adesão às práticas de leitura, no seguinte contexto:

  • Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura, textos de divulgação científica e/ou textos jornalísticos que circulam em várias mídias.
  • Mostrar-se ou tornar-se receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativa, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor.

O destaque a este trecho da BNCC tem um objetivo: embora a literatura apareça ali como um item pouco especial em relação a outros, o parágrafo seguinte menciona a importância de que os e as estudantes sejam receptivos “a textos que rompam com seu universo de expectativa” e que “representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura”, e isso, é claro, a poesia, contemporânea ou anterior, pode fazer muito bem.

A página 75 da BNCC é explícita ao defender o texto culto, o canônico, mas também a diversidade, a diferença e a ampliação de repertórios. Mais adiante, na página 86, o documento trata do direito de todos/as à literatura e à arte, algo que consideramos uma das missões da escola, inclusive contra a padronização e a pasteurização comumente oferecidas por muitas mídias acessadas por crianças e jovens.

A nona competência em linguagens (p. 87) explicita:

Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura.

Entre as habilidades descritas para as séries finais do ensino fundamental, a BNCC coloca (p. 187):

(EF89LP36) Parodiar poemas conhecidos da literatura e criar textos em versos (como poemas concretos, ciberpoemas, haicais, liras, microrroteiros, lambe-lambes e outros tipos de poemas), explorando o uso de recursos sonoros e semânticos (como figuras de linguagem e jogos de palavras) e visuais (como relações entre imagem e texto verbal e distribuição da mancha gráfica), de forma a propiciar diferentes efeitos de sentido.

Parece claro aí o impulso para a leitura da poesia, embora a sugestão seja partir dos “poemas conhecidos”, parodiando-os, enquanto nós preferimos pensar que a juventude possa se expressar na poesia mais criativamente ainda, propondo e elaborando seus textos, sua forma, sua conciliação entre mídias. Às vezes, somos surpreendidos/as por alunos/as tímidos/as em sala de aula, mas que mantêm forte atuação como criadores na internet, por exemplo. O que causa essa ruptura? Embora a BNCC reitere a relação entre poesia e imaginação, é imperativo dizer que não é só disso que esse gênero literário é feito ou só isso que ele promove. A poesia pode tocar com firmeza a vida real e dizer muito sobre questões importantes de nosso tempo. Pensamos ser fundamental o contato de jovens com textos ainda não tão conhecidos, mas que circulam justamente no debate literário contemporâneo.

No ensino médio, a BNCC (p. 499) afirma que “Em relação à literatura, a leitura do texto literário, que ocupa o centro do trabalho no Ensino Fundamental, deve permanecer nuclear também no Ensino Médio”. Passa, então, a advogar a intensificação do convívio dos e das estudantes com esse gênero, novamente argumentando sobre a ampliação das visões de mundo, além das capacidades de ver e de sentir. O modo como isso aparece no documento ainda é relativamente pouco, perto de tudo o que a leitura literária pode provocar no encontro entre leitores, leitoras e o texto que pulsa.

Na página 500, a Base lista, novamente, a importância de se apresentar e conciliar o culto, o canônico e o popular, citando inclusive o periférico. Pela primeira vez, o documento explicita a “inclusão de obras da tradição literária brasileira e de suas referências ocidentais – em especial da literatura portuguesa –, assim como obras mais complexas da literatura contemporânea e das literaturas indígena, africana e latino-americana”. Uma segunda menção à literatura contemporânea aparece à página 523, em nova lista. Seguem-se então páginas que incluem a literatura em suas facetas periférica, marginal etc.

A palavra poesia aparece uma única vez na Base, à página 138, no contexto do ensino fundamental, com o objetivo de leitura e dos estudos de figuras de linguagem. Embora seja muito importante compreender e saber empregar figuras de linguagem, além de concordarmos que parte da matéria-prima do gênero está nesses recursos da língua, há muito mais que a poesia oferece. Já a expressão texto poético aparece 16 vezes, a maioria delas nos quadros de descritores de habilidades e objetos de conhecimento. O estudo da forma e do sentido é o foco aí.

Com essa passagem ligeira pela Base Nacional Comum Curricular, documento vigente no Brasil para o ensino básico, queremos dizer que, embora possamos flagrar nele a importância da leitura literária e, muito secundariamente, da produção literária, ainda é possível fazer muito mais e melhor, se formos diligentes e comprometidos/as com a literatura de nosso país (e não apenas), em especial conhecendo e valorizando a literatura contemporânea, que ainda não é canônica e nem se resume ao “marginal”. Há muito o que fazer na mediação da leitura de jovens, incluindo-os nessa cena, inclusive como possíveis criadores, motores de nossas culturas.

 

Sobre o projeto de vida de ser escritor(a)

Os escritores e as escritoras foram, um dia, estudantes. No mínimo, aprenderam a lidar com textos, sejam orais ou escritos. Ainda que uma pessoa possa se tornar escritor/a por acaso, por agarrar alguma oportunidade fortuita na vida, é comum que escritores e escritoras tenham perseguido um desejo, um sonho, sem necessariamente abandonar outra profissão. Ser escritor ou escritora, de vários ou de um gênero literário específico, pode ser o projeto de vida de alguém, desde a mais tenra idade. Quando lemos ou ouvimos as histórias de vida de autores e autoras já conhecidos, é comum que eles e elas contem sobre sua relação longa com livros, primeiros textos literários, ideias de publicação e com a inspiração em algum escritor ou alguma escritora anteriores. Essa relação pode ter se dado na escola, mas também fora dela, em condições precárias, mas que foram fortemente reconhecidas e aproveitadas.

Para que a poesia e outros gêneros literários possam fazer parte do horizonte de vida de um/a jovem, pode ser fundamental que a escola dê a eles e a elas condições de sentir que o livro literário e sua escrita são trabalho, exigem dedicação, estudo, leitura e que fazem parte de um universo que, além de artístico, é também econômico e cultural.

A literatura contemporânea goza de uma condição específica: autores e autoras vivos podem estar bem próximos da escola e da educação, desde que as instituições possam evitar a romantização excessiva dessa atividade, assim como não permitir a censura e conduzir leitura e produção textual com seriedade e abertura. Muitos textos publicados hoje são excelentes oportunidades para debates ricos, importantes e mobilizadores, em muitos sentidos.

É possível adotar livros de poesia contemporânea, lê-los em sessões de fruição, mas também de análise e debate, além de fazer que derivem deles produções multimodais, coletivas ou individuais. A poesia é um dos gêneros literários de mais fácil circulação, sendo possível apresentá-la e mesmo produzi-la de modos diversos, num trânsito multiletrado e multimodal muito rico. Do livro-palavra à imagem, ao som, ao palco, ao vídeo, à roda de leitura, ao slam, ao dizer, decorado e sem decorar, é possível fazer de cada obra um gatilho para muitas outras leituras e produções. Por fim, é fundamental lembrar: livros podem mudar pensamentos, influenciar pessoas e ajudar em mudanças importantes do mundo.

 

Referências interessantes

A Base Nacional Comum Curricular está disponível para leitura e download no site do MEC. É importante acessá-la, lê-la diretamente e discutir aspectos dela com colegas e gestores, jamais reduzindo as ações da escola ao que lá está. É sempre possível fazer mais e melhor, conhecendo, é claro, as condições reais de nossas escolas e estudantes.

Há livros que tratam especificamente da poesia em contexto escolar. É o caso de A poesia vai à escola, de Neusa Sorrenti (Autêntica), com dicas e reflexões sobre esse gênero. Também pode ser importante conhecer reflexões atuais sobre literatura e escola na obra A função da literatura na escola (Parábola), organizada pela profa. Maria do Socorro Macedo.

O site da editora Parábola tem dicas de como aproximar estudantes da leitura, pela profa. Thaís Marcondes.

Para deitar por terra um discurso paralisante e falso de que apenas ricos leem, é importante conhecer a atuação de instituições e pessoas que lidam diretamente com a leitura nas periferias. Sugerimos o trabalho da educadora social Bel Santos Mayer, mas com ela, e em toda parte, há sempre pessoas engajadas nisso em nossas cidades.

 

Ana Elisa Ribeiro é apaixonada por poesia. É professora de língua portuguesa e pesquisadora da edição no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Autora de livros literários para adultos, jovens e crianças. Pela Peirópolis organizou Linguagem, Tecnologia e Educação e Leitura e escrita em movimento.

 

 

 

Estante de livros

Quem tem pena de passarinho é passarinho

Este livro estreia a Biblioteca Madrinha Lua, coleção de poesia contemporânea. Nele, a poeta Líria Porto celebra as transformações da natureza. Trata-se de poesia que tem a simplicidade e a complexidade dos fenômenos da natureza, invisíveis e intangíveis, mas não por isso menos deslumbrantes.

Nas palavras de Ana Elisa Ribeiro, a poeta que coordena a coleção, “se fosse possível ver a poesia da Líria Porto, seria talvez por meio de traços finos, mas enérgicos, firmes em seu voo planado; uma expectativa de vir algo leve, mas vem uma pedra, depois o contrário, e vem uma pluma”.

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Lança chamas

Este é o segundo livro da Biblioteca Madrinha Lua. A poeta potiguar Regina Azevedo é dona de uma voz lírica inquietantemente jovem e consciente, apegada à sua ancestralidade e ao local, mas também ao mundo e o gesto político para e com as mulheres.

Nas palavras da prefaciadora Maria Luíza Chacon, o livro de Regina (e seu título) “parece dizer mais respeito ao gesto em si, ao exercício de lançar fogo próprio da linguagem poética que aqui se estabelece”.

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Estive no fim do mundo e me lembrei de você

A poeta mineira Adriane Garcia, muito ativa nas redes sociais e por sua militância literária, é uma voz lírica que celebra a natureza em sua relação tensa com a humanidade – por culpa nossa, claro. Nas palavras da poeta Ana Elisa Ribeiro, coordenadora da coleção, “Não é de guerra, mas é de tensão, de crítica, de ironia, de denúncia. Tem um calor de debate, de diálogo firme. Com ela não se nina, mas se desperta”.

A Biblioteca Madrinha Lua pretende reunir poetas que nos aparecem pelas frestas do mercado editorial, pelas fendas do debate literário amplo, pelas escotilhas oxidadas, enquanto mergulhamos na literatura contemporânea. Já no final da vida, Henriqueta Lisboa, nossa poeta madrinha, se fazia uma pergunta dura, sem resposta previsível, em especial para as mulheres que escrevem: “Terá valido a pena a persistência?”. Vamos juntas dando belas respostas. 

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Até aqui

O quarto livro da Biblioteca Madrinha Lua é da poeta paulista Lubi Prates, dona de uma das vozes líricas mais potentes da cena literária nacional. Nas palavras da prefaciadora, a professora Heleine Fernandes, “O percurso de escrita da poeta Lubi Prates constrói a possibilidade de unir amor e negritude em um mesmo verso”.

A Biblioteca Madrinha Lua pretende reunir poetas que nos aparecem pelas frestas do mercado editorial, pelas fendas do debate literário amplo, pelas escotilhas oxidadas enquanto mergulhamos na literatura contemporânea. Já no final da vida, Henriqueta Lisboa, nossa poeta madrinha, se fazia uma pergunta dura, sem resposta previsível, em especial para as mulheres que escrevem: “Terá valido a pena a persistência?”. Vamos juntas dando belas respostas.

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1 Comment

  • Lucia V. Posted 6 de novembro de 2022 21:12

    Amei “conhecer-vos”!!!
    Que linda deve ser a vossa Biblioteca e poéticos os vossos projetos.
    Parabenizo-vos!!!

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