Série Orixás - Mitologia Yorubá em quadrinhos - Editora Peirópolis

Série Orixás – Mitologia Yorubá em quadrinhos

Na série Orixás, as histórias da tradição oral afro-brasileira podem ser apreciados sem preconceitos, pela arte dos quadrinhos, em volumes independentes que podem ser lidos em qualquer ordem. Embora respeitem a representação dos orixás dos terreiros de umbanda e do candomblé, religiões brasileiras de matriz africana, os autores mantiverem uma aproximação fiel com a cosmovisão original da oralidade africana.

Roteirizados por Alex Mir, que em 2010, no início da série, recebeu o Prêmio HQ Mix, na categoria Roterista Revelação, as artes são de um coletivo de artistas brasileiros, como Al Stefano, Alex Genaro, Alex Rodrigues, Caio Majado, Germana Viaba, Jefferson Costa, Laudo Ferreira, Marcel Bartholo, Omar Vinole e Will, proporcionando grande diversidade estética e de abordagem da matriz cultural iorubá.

O primeiro título foi publicado em 2010, com apoio do Programa de Ação Cultural do Governo de São Paulo (Proac 2010) e, em 2012, foi adotado pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Até hoje a obra é muito utilizada em salas de aula.

A série já recebeu, em 2018 e 2019, o Prêmio HQMix 2019 na categoria Publicação Independente de Grupo.

 

I – POR QUE ESTUDAR HISTÓRIAS EM QUADRINHOS?

HQs ampliam as fronteiras do nosso conhecimento – Elas são muito mais que um gênero “de entrada” no mundo da literatura.

Os quadrinhos são uma das formas de comunicação mais populares no mundo inteiro. Suas publicações ocorrem em escala industrial e os números atingem milhares, às vezes milhões de exemplares. O público apaixonado por HQs movimenta uma atividade comercial muito expressiva no mundo das publicações. Talvez por isso, por ser tão popular, os quadrinhos provoquem uma certa desconfiança de que esse gênero possa promover riqueza literária e ampliação cultural em crianças, jovens e, porque não, adultos.

Nós, da Editora Peirópolis, acreditamos muitíssimo na potência transformadora que as Histórias em Quadrinhos realizam em nossos leitores. Por isso, as HQs figuram em lugar de destaque em nosso catálogo, com dezenas de importantes publicações e seguimos firmes e engajados em nosso propósito de propagação desse gênero, em quantidade e qualidade.

O casamento entre texto e imagem que os quadrinhos proporcionam, provoca na gente uma riqueza de apreensões que nos leva para além, muito além da aparente simplicidade que, às vezes, esse gênero sugere. Isso acontece porque a sua narrativa é única. Quando lemos boas HQs, somos abduzidos, transformados numa espécie de coautores desse percurso narrativo. A junção entre imagem e texto destampa nossas referências imagéticas, flexibiliza nossas referências de tempo e espaço e nos mobiliza como participantes ativos e, assim, embarcamos com nossas bagagens em suas aventuras. Esse fascínio é próprio dos quadrinhos, diferente do cinema, da televisão, do videogame, entre outras tantas linguagens.

Alguns benefícios de se trabalhar com quadrinhos em sala de aula:

  • PROXIMIDADE – Por ter um caráter comercial, popular e ser uma linguagem muito próxima do cotidiano e das experiências das crianças e jovens, os estudantes gostam de ler quadrinhos. As HQs na sala de aula podem motivar mais os alunos em seus processos de aprendizagem pois instigam a curiosidade e o senso crítico, num suporte de maior familiaridade.
  • INCLUSÃO – Essa linguagem possui um forte caráter democrático e inclusivo pois consegue dar conta de temas complexos de maneira mais acessível a todos, sem ser simplificadora. A junção texto/imagem, comprovadamente, amplia as possibilidades de compreensão dos conteúdos programáticos pelos alunos.
  • CRIATIVIDADE – As imagens impactam, tornam tudo mais explícito, direcionam o discurso e ampliam o universo interpretativo. Os estudantes, pela leitura das HQs, estão sempre exigidos a pensar e construir imagens, complementando em suas mentes as cenas e situações que não foram contempladas graficamente. Logo, para além de leitor, alunas e alunos passam a ser produtores nesse gênero.
  • AMPLIAÇÃO DO INTERESSE PELA LEITURA – Ao contrário do que alguns pensam, os estudos revelam que a leitura de quadrinhos amplia o interesse dos leitores por outras linguagens literárias. Em geral, alunos que têm uma prática recorrente na leitura de HQs encontram menos dificuldades na fluência e compreensão de outros gêneros.
  • ENRIQUECIMENTO VOCABULAR – Embora os quadrinhos, pela sua natureza, sejam escritos em linguagem de fácil acesso, como a variedade de assuntos é muito ampla, sempre a leitura das HQs proporciona uma grande ampliação do vocabulário e da visão de mundo dos leitores.

 

II – POR QUE ESTUDAR OS MITOS?

Todos gostamos de histórias! As narrativas compõem nossas vidas e povoam nosso imaginário desde que nascemos. Vivemos rodeados de palavras e imagens em rios de lembranças que lemos e ouvimos e que vão ampliando nossa apreensão sobre o mundo, formando o imenso mar de sentidos que tornam a nossa experiência humana na vida, certamente, muito mais rica.

E é assim, desde sempre, que os mitos nos chegam, é desse jeito que eles aparecem pra gente, carregados de mistérios, encantos e ensinamentos. Por isso, essas histórias aparentemente simples são tão especiais, elas nos fazem mergulhar em aspectos inaugurais e muito profundos da nossa condição humana. Quem somos, de onde viemos, para onde vamos … nossas origens, nossa ancestralidade, nossos propósitos, nossos destinos.

MEMÓRIAS DE UM TEMPO ETERNAL

Essas sagas mitológicas cuidam de um tempo que os relógios não medem, um tempo remoto, bem distante do nosso. Tão longe e, ao mesmo tempo, tão intimamente perto … Ao rememorarmos as narrativas que nossos antepassados criaram e nos sopraram por gerações, sentimos esse tempo incrustrado em nossa memória coletiva, para além das fronteiras cronológicas, para além das fronteiras dos lugares. Os mitos nos revelam o Tempo Eternal. Quando lemos e ouvimos as histórias das mitologias grega, egípcia, inca, viking, indígena brasileira, a yorubá, que mergulharemos mais e todas outras tantas, acessamos nossa sede de eterno, nossa vontade de cobrir a vida de imensidões.

Então, convidamos vocês a embarcarem conosco nesse universo cheio de magia e encantos. Uma viagem que pretende abrir nossos corações para a rica diversidade cultural que contribuiu fortemente na constituição das raízes do nosso povo brasileiro.

A DIFERENÇA ENTRE MITO E RITO

Quando tratamos de mitologias, estamos falando de civilizações muito antigas em que, invariavelmente, ocorria uma mistura do sagrado com os demais aspectos da vida (cultural, social, político, econômico, etc.). Assim, muitas vezes, o poder político e econômico se amalgamavam ao poder religioso e isso ainda ocorre, em muitos lugares hoje em dia. Essa prática social de separar o sagrado do secular é historicamente muito recente.

Também, muitos sistemas de narrativas mitológicas acabaram, ao longo do tempo, por se transformar na base filosófica de algumas expressões de fé, de viés religioso. Caso do cristianismo primitivo, dos indígenas brasileiros, de muitas narrativas hindus, da tradição maia e asteca. Caso também da mitologia yorubá, que no Brasil inspira práticas religiosas como a Umbanda e o Candomblé.

Na escola, porém, por sua estrutura laica e por determinação constitucional, todos os educadores devem cuidar para que não haja proselitismo religioso de nenhuma natureza. No ambiente escolar, devemos tratar estritamente dos mitos e não dos ritos. Os ritos, rituais e ritualísticas do judaísmo, do paganismo, do cristianismo, do hinduísmo, das religiões de matriz africana, etc., devem ficar circunscritos aos seus espaços de manifestação de fé. Assim, o que se pretende é que, como na mitologia grega, por exemplo, tratemos a mitologia yorubá em sua riqueza narrativa e eu seus arquétipos revelados e não em sua perspectiva religiosa. Dessa maneira, sem nenhuma necessidade de envolvimento com aspectos ritualísticos e sagrados, podemos estudar as narrativas, do Antigo Testamento, as narrativas hindus, as pérolas mitológicas nórdicas, sem nenhum risco de nos convertermos a nenhum sistema de credo. Escolas servem para ampliar o nosso horizonte de conhecimentos sobre a vida e não para nos converter a nenhum credo, seja ele qual for.

 

III – POR QUE ESTUDAR A ÁFRICA E A MITOLOGIA AFRICANA?

Superando a visão eurocêntrica sobre o continente africano – A África é muito mais que o cenário do mundo selvagem, do povo primitivo, da fome e das guerras.

Se a ampliação dos nossos conhecimentos sobre o continente africano não vier pela Escola, dificilmente entenderemos a África para além dos estereótipos de atraso, fome, guerras, primitivismo, etc. Os meios de comunicação, em geral, reduzem e generalizam a África a um conjunto restrito de imagens, como se esse vasto continente fosse uma coisa só. Somente um estudo mais detalhado, feito na Escola, poderá ampliar nossa consciência sobre esse território tão cheio de riquezas, berço da humanidade e tão constitutivo do nosso povo brasileiro. Esse material pretende ser um dos elementos disparadores de ações pedagógicas nesse sentido. Que o estudo da mitologia yorubá, em quadrinhos, possa abrir caminhos para a ampliação da nossa visão sobre a África, para dilatar a nossa consciência africana!

POR UMA CONSCIÊNCIA AFRICANA …

Os mitos dos quais essa coleção trata são oriundos de uma região específica do continente africano, de um povo com uma cultura própria, diferente das demais. Eles não representam a visão de mundo da África como um todo. Quando falamos de um continente tão imenso e diverso como o continente africano, não podemos, em hipótese alguma, fazer generalizações, como muitas vezes ocorreu e ocorre ainda em nossas escolas.

ÁFRICA NÃO É TUDO IGUAL!

A África é um continente que tem 54 países e cerca de 1 bilhão de habitantes. Ela é o berço da civilização humana e tem uma história milenar.

Antes da maciça invasão dos europeus, a partir do século XV, o continente africano foi palco de grandes civilizações importantes, como a egípcia e os reinos de Gana, Mali e Songhai. Para além da suntuosidade já muito conhecida dos reinados faraônicos, entre os séculos V e XV, a porção ocidental africana também viveu períodos muito frutíferos, possuindo, entre outros aspectos, centros urbanos com mais de 3 milhões de habitantes, desenvolvimento intenso do comércio de ouro, sal, peles e outras riquezas, ostentando desenvolvimento cultural grandioso, com universidades e bibliotecas que chegaram a ter 25.000 volumes.

COLONIZAÇÃO EUROPÉIA E ESCRAVIZAÇÃO

Grande parte dessa história foi brutalmente afetada por dois importantes movimentos de colonização realizados na base de muita violência por nações europeias, dentre elas a portuguesa. O primeiro, nos séculos XV e XVI (época das grandes navegações e colonização) e o segundo, no século XIX (imperialismo/neocolonialismo).

Essas invasões territoriais provocaram centenas de milhares de mortes, um saque profundo das principais riquezas dos diversos territórios, uma extirpação de muitas culturas locais, um processo violento de escravização comercial que movimentou um comércio altamente lucrativo à custa do sofrimento de milhões, sim, milhões de vidas humanas.

Só para o Brasil, estima-se que vieram 5 milhões de africanos escravizados. Por conta disso, o Brasil tem cerca de 100 milhões de afrodescendentes. É o segundo maior país em quantidade de negros, atrás somente da Nigéria. E, seguindo a versão histórica dos conquistadores, a visão eurocêntrica, em geral, a História da África é contada da ótica de quem explorou e colonizou, nunca de quem sofreu a dominação e o julgo da escravidão. Como seria entender esse continente a partir do ponto de vista das pessoas que estenderam suas gerações nessa terra ancestral?

Didaticamente, podemos dividir o continente africano em duas regiões: a Setentrional, com os 7 países mais próximos da Europa, de influência muçulmano historicamente marcante, desde os séculos VII e VIII, e a região Subsaariana, mais populosa e mais diversa do continente. Do ponto de vista étnico e linguístico, temos centenas de grupos africanos, também didaticamente agrupados em 3 troncos: os Berberes (região setentrional) e Sudaneses e Bantos (região subsaariana). Foram basicamente os negros desses dois últimos troncos que vieram escravizados para o Brasil. Veja no mapa abaixo.

ENTÃO, DE ONDE VÊM OS YORUBÁS?

Para seguir a lógica apresentada até agora, vamos refazer, então, nosso caminho didático.

O povo Yorubá, o povo nagô, de onde vêm os mitos dos quadrinhos que trabalharemos, originam-se da África Subsaariana, do tronco linguístico dos sudaneses.

Ocupavam, principalmente as cidades-estados de Ilê Ifé, Ketu e Oyó, em regiões próximas ao rio Niger, o terceiro maior rio da África, onde, atualmente ficam os países da Nigéria, Benin, Togo e Gana e Serra Leoa, na chamada África Ocidental. Sua constituição enquanto povo se estabeleceu, efetivamente, entre os séculos IX e XV, tendo vivido seu apogeu por volta do século X. Não formaram um reino com poder político centralizado.

Cada região tinha sua estrutura de poder local. Desenvolveram um comércio intenso de peles, pimenta, marfim, nós de cola e praticavam uma metalurgia muito sofisticada. As peças em bronze do povo yorubá, encontradas pelos arqueólogos, são riquíssimas em detalhes, dotadas de uma sofisticação muito adiante do seu tempo. A partir de 1830, a região yorubá sofre diversas invasões de povos internos e externos e é nesse tempo que o tráfico de escravizados yorubanos se intensifica bastante para o Brasil.

 

IV – USANDO A COLEÇÃO ORIXÁS NA ESCOLA…

ROTEIROS – A GRANDE UNIDADE DA COLEÇÃO

Os seis volumes dessa coleção desfilam, ao todo, 21 histórias mitológicas que falam direta ou indiretamente dos Orixás, divindades da mitologia yorubá.

Em todas histórias, podemos dizer que os roteiros são o principal eixo condutor delas próprias e também o importante garantidor de unidade entre elas. Todas elas têm em seus roteiros o principal fio condutor. Elas foram escritas pelo mesmo roteirista, Alex Mir, e ilustradas e arte-finalizadas por diversos outros artistas.

Então, podemos dizer que temos um fio condutor muito consistente que perpassa todos os volumes como um rio caudaloso e fértil. Dele desdobram as demais interpretações narrativas de cada desenhista. Veja, abaixo, como esse rio de histórias escorre em direção ao mar da ampliação cultural, do primeiro ao sexto volume:

I  ORIXÁS – O dia do silêncio

1. O dia do silêncio
2. A criação das ondas
3. A separação do céu e da terra (1ª versão)

II ORIXÁS – Do Orum ao Ayê

4. A criação dos Orixás
5. A criação do Céu, o Orum
6. A criação da Terra, o Ayê
7. A criação dos seres humanos
8. A separação do céu e da terra (2ª versão)

III ORIXÁS – Renascimento

9. Iroco – A árvore do Tempo
10. Oxum – o vôo do pavão

IV  ORIXÁS – Em guerra

11. Xangô – Orixá da justiça
12. Oxóssi – As feiticeiras Iá Mi Oxorongá

V ORIXÁS – Ikú

13.    Por que Oxalá criou a morte
14.    Ikú e suas dimensões humanas
15.    Exú confunde humanos ingratos
16.    Ikú tem sede de vingança
17.    Taiô e Caiandê, os ibicus, filhos de Iansã e Oxóssi
18.    Como os ibicus contiveram a morte
19.    O segredo de Oxalá sobre a morte

VI  ORIXÁS – Os nove eguns

20.    Os nove eguns
21.    Orum a Oxu ou Como Iemanjá criou a Lua

UM CAMINHO PARA COMPREENSÃO DAS NARRATIVAS MITOLÓGICAS

As narrativas mitológicas contêm ensinamentos importantes que certamente apreenderemos, se a nossa leitura for bastante cuidadosa e atenta. Quando trabalhamos esses mitos em sala de aula, o desafio é não estacionarmos na primeira linha de compreensão textual, a apreensão literal e simples, a que se restringe somente aos aspectos textuais explicitamente escritos e desenhados nas histórias.

No trabalho de leitura, para que possamos transcender a essa apreensão primária, alguns questionamentos são sempre muito bem-vindos.

QUESTÕES ORIENTADORAS

São perguntas que não precisam ser aplicadas em todas as histórias, individualmente. Elas podem ser adaptadas, agrupadas, recriadas, conforme a intenção pedagógica das atividades. Mas, certamente, são indagações como essas que farão da leitura uma experiência mais rica e envolvente:

  • SOBRE OS SENTIMENTOS – Sempre é importante garantir espaço para os alunos expressarem as sensações que tiveram com a leitura. Os sentimentos todos estão, de certa forma, dormentes na gente. A literatura tem esse poder de acordar essas sensações. “Que sentimentos essa leitura despertou em você?”
  • SOBRE AS ENTRELINHAS – Os sentimentos nos ajudam a identificar, no texto, aquilo que está dito, mas não foi escrito nem desenhado, as chamadas entrelinhas do texto. Sempre é importante estimular os alunos a identificar outras camadas de compreensão textual, sem muitos julgamentos, permitindo que possam fruir em suas interpretações. “Você consegue identificar alguma ideia que não esteja escrita nem desenhada, mas que, de certa forma, está sugerida nessa história?”
  • SOBRE OS ORIXÁS E OS ELEMENTOS DA NATUREZA – Na cosmovisão yorubá, nós humanos não somos superiores aos outros seres vivos que compõe o Ayê. A natureza é maior, tem uma dinâmica própria e deve ser respeitada. Ela é a mãe de todos, sem ela, não há vida na terra. “Que cuidados com a natureza essa história nos sugere? Como essa história sugere que tratemos a natureza?” Todos os Orixás estão ligados a elementos da natureza. De certa forma, para além das tramas em que se envolvem nas histórias, eles representam um cuidado específico com algum aspecto dessa mãe natureza que nos acolhe na vida, o Ayê. Para falar de alguns, talvez os mais conhecidos:
    • Exú está intimamente ligado ao centro do planeta, ao fogo primordial, ao calor que chega à superfície da terra e permite aos agricultores boas colheitas;
    • Ogum está ligado aos metais, que nos possibilita a engenhosidade das ferramentas e armas, que facilitam nossa vida na terra;
    • Oxumaré está na representação do arco-íris, símbolo mitológico da ligação entre o sagrado e o terreno;
    • Xangô está ligado ao fogo, aos tremores da terra, às pedras, às rochas que representam aquilo que se cristaliza e sedimenta na natureza;
    • Osanhe está na essência curadora das folhas das plantas, das ervas medicinais, muito importantes para os yorubás;
    • Obaluaê é um orixá ligado à cura, ou seja, ao reequilíbrio dinâmico na natureza da terra e em nossa própria natureza humana, representa os processos de decomposição que geram novas vidas, como as compostagens, a elaboração do húmus;
    • Ikú representa a morte, destino natural de todos nós que pertencemos à natureza e a ela voltaremos, pela dinâmica própria da vida;
    • Oxóssi representa as matas, as florestas, os recursos naturais de onde tiramos a caça, os alimentos que plantamos e os animais que criamos;
    • Obá representa as águas revoltas dos rios, a pororoca, as águas reviradas, cheias de sedimentos e atua com Nanã nos lamaçais e águas profundas e escuras, manguezais que são fétidos e ao mesmo tempo berçário de muitas vidas;
    • Oxum representa a exuberância dos rios, das cachoeiras, das águas doces aprazíveis;
    • Iemanjá é o grande mar, imenso com todas as suas belezas e profundidades; Euá está nas neblinas e nevoeiros que umedecem o ar na natureza, está naquele tom rosado que o céu ganha quando ocorre o pôr do sol;
    • Iansã é representada pelos raios, trovões e todos os tipos de ventos;
    • Iroco é a árvore sagrada, representa a ancestralidade da natureza e o próprio tempo e sua atuação em nossas vidas;
    • Olorum criou o Orum, o céu e criou também todos os orixás, dentre eles Odudua e Oxalá e, criadores do Ayê, a terra e de nós, seres humanos.
  • SOBRE OS ARQUÉTIPOS MITOLÓGICOS E A NOSSA CONDIÇÃO HUMANA – Como na mitologia grega, as divindades yorubanas são seres cheios de poderes e virtudes, mas, também, carregados de imperfeições. Sentimentos como raiva, vaidade, ciúme, vingança, entre outros, convivem juntos com os melhores atributos dos orixás. “Que virtudes e que defeitos esses personagens apresentam na história? Que ensinamentos essas condutas virtuosas e defeituosas podem nos transmitir em nossas vidas?” Nesse sentido, como na mitologia do Olimpo, o panteão yorubá, de certa maneira, um conjunto de arquétipo, de modelos, certos padrões para nós, humanos. Assim, sempre é bom orientar o olhar dos nossos alunos para esse conjunto de virtudes e defeitos. O escritor Norberto Peixoto, observando a tradição das lendas mitológicas yorubanas, escreveu sobre os arquétipos de alguns orixás. Selecionamos alguns, os que mais aparecerem nas histórias dessa coleção:
    • Oxalá sugere devoção, calma, tranquilidade, silêncio, contemplação mas também isolamento, autoritarismo, melancolia, impaciência, ira, crueldade;
    • Iemanjá sugere prosperidade e abundância em todos os sentidos, acolhimento, zelo, sentido de união, evolução, criatividade, mas também avareza, rejeição, medo, apego, ciúmes, e insensibilidade;
    • Xangô é o orixá da justiça, equidade, equilíbrio, discernimento, nobreza de caráter, dignidade, organização e trabalho, progresso cultural e social, altivez e inteligência, mas também pode ser marcado pela onipotência, rigidez de opiniões, vitimização, ingratidão, autoritarismo, insensibilidade, arrogância, vaidade exagerada, estabanamento;
    • Ogum é o orixá da coragem, agilidade, sinceridade e franqueza, decisão, elegância, liderança, mas também podem ser marcados por serem agressivos, autoritários, violentos, ciumentos, covardes e teimosos;
    • Iansã é marcada pela perspicácia, coragem, lealdade e franqueza, fluidez de raciocínio, facilidade na comunicação, sensualidade e talento artístico, mas também pode ser agressiva, ciumenta, rancorosa e impulsiva;
    • Oxum é marcada pela graciosidade, beleza, bondade, sensatez, amorosidade, companheirismo, meiguice e amizade, mas também pode . ser lembrada pela insatisfação, melindre, ciúme, vingatividade e passadismo;
    • Oxóssi é o buscador, pesquisador veloz, tem rapidez de raciocínio, boa oralidade e comunicação, são generosos, hospitaleiros e amigos mas também podem se perder em seus propósitos por nutrirem muitas ilusões, podem titubear de mais entre o desejo e a capacidade de realizar;
    • Nanã é marcada pela sensatez,  paciência, perseverança, prudência, objetividade, respeitabilidade, gentileza, generosidade e amorosidade dos avós, mas também podem ser intolerantes, ranzinzas, rabugentos, mal-humorados, avarentos, indiferentes, estúpidos;
    • Obaluaê marca o arquétipo de pessoas capazes de se anular para proporcionar bem-estar a terceiros, fazendo disso sua maior motivação na vida, são amigos dedicados, exímios curadores e altruístas mas podem carregar vaidade exagerada, maldade, morbidez, indolência e mau humor.

 

MERGULHANDO NAS HISTÓRIAS MITOLÓGICAS

VOLUME I – ORIXÁS – O DIA DO SILÊNCIO

O dia do silêncio (Ogum)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Ogum era um mortal, rei de Irê. Ao voltar feliz, vitorioso de mais uma batalha, se intriga com seu povo que o recebe em silêncio, sem o reverenciar pela vitória.
  • Ogum, vaidoso, fica enfurecido com a atitude do povo, não procura compreender o motivo e sai matando cada um que não lhe dirigisse a palavra nem olhasse em seus olhos.
  • Ogum mata metade da cidade de Irê e ameaça matar a outra metade no outro dia.
  • Quando amanhece, Ogum descobre que era o dia do silêncio.
  • Ogum pede perdão ao seu povo, é perdoado, mas não se perdoa, transfere a coroa a seu filho e vai viver isolado na mata.
  • Na mata, ao fincar sua espada na terra, Ogum abre mão do seu poder, de suas conquistas e da sua vaidade.
  • Então, Ogum se torna divino, é transformado em Orixá.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Como, muitas vezes, podemos nos tornar insensíveis a aspectos importantes da coletividade quando nos deixa-mos levar pela ilusão do poder, do sucesso e nos torna-mos vaidosos demais.
  • A importância metafórica do silêncio. O que o povo quer dizer quando silencia?
  • O aspecto sagrado que o personagem assume quando abre mão do poder e da vaidade.
  • Quais, no convívio social, quais são os valores que têm um caráter mais passageiro e quais os valores que po-dem ser mais permanentes e eternais.

A criação das ondas (Iemanjá) (Oxalá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • A narrativa, ambientada em tempo presente, se inicia com um garoto “tomando um caldo” no mar.
  • Daí em diante, seu avô lhe conta a história do surgimento das ondas.
  • Iemanjá tinha o governo dos mares e era feliz com isso, até perceber que seus domínios esta-vam carregados de sujeira.
  • Iemanjá pede a intervenção de Oxalá, criador dos seres humanos, para contê-los em suas ações sujismundas.
  • Os humanos seguem sujando as praias e o mar.
  • Iemanjá perde a paciência, usa o seu abebé e provoca um grande redemoinho que gera ondas por todos os mares.
  • Dali em diante, toda a sujeira que os humanos lançam ao mar, voltam para a praia, pela ação das ondas.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Como sugere a história, “se não fossem as ondas, a vida no mar já estaria morta há muito tempo” – observar a importância da consciência ecológica.
  • As metáforas do mar – imenso, profundo, misterioso. O que ocorre quando depositamos sujeira nesse mar que temos dentro da gente?
  • As metáforas da onda – aquilo que provoca movimento, que gera instabilidade, que nos exige cuidado e atenção, que nos coloca em estado de alerta, mas também aquilo que nos tira da zona de conforto, que gera renovação, desenvolvimento, evolução.
  • Não esquecer de destacar a figura do avô, contador de histórias, portador da memória que se transmite por gerações, como na tradição yorubá.

A separação do céu e da terra (Oxalá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Também ambientada no tempo presente, a narrativa se inicia com a irritação de uma garota com seu irmão, que não para de fazer perguntas, por ser curioso demais.
  • Daí em diante, o avô dois lhes conta a história de uma criança curiosa demais, a história da separação do céu e da terra.
  • No início, não havia separação entre o céu e a terra. No céu moravam os orixás e na terra os humanos e havia acesso livre para todos entre desses dois mundos.
  • Na terra, uma mulher convence seu marido idoso a irem ao encontro de Oxalá. O casal pede a intercessão do orixá criador para terem um filho.
  • Oxalá intercede com uma condição: – que a criança jamais pisasse no Orum, terra dos Orixás.
  • O casal é agraciado com um filho que cresce e, curioso, quer saber do lugar misterioso onde o pai dele trabalha. Segue o pai, às escondidas, e chega ao lugar proibido, rompendo a promessa dos pais.
  • Oxalá se irrita e castiga a humanidade. Dali em diante, os humanos jamais pisariam no Orum enquanto estivessem vivos.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Esse é um mito fundador. Seria muito interessante lembrar outros mitos fundadores, que envolvem a relação do sagrado com o terreno. Por exemplo, o mito fundador do Antigo Testamento, em que Adão e Eva ultrapassam os limites colocados por Deus e acessam a árvore do fruto proibido. Há muitas similaridades entre esses mitos e a exploração dessas semelhanças e diferenças pode ser muito rica.
  • O lugar da mulher – tanto no mito do Antigo Testamento, quanto no mito yorubá, a figura feminina é aquela que provoca, que instiga, que está insatisfeita e quer mudança, e quer mais. Explorar a simbologia dessa figura feminina também pode gerar discussões muito ricas.
  • Os limites entre o sagrado e o terreno, a ideia da proibição, a ideia de castigo – explorar esses conceitos nos dois mitos.
  • Novamente, não esquecer de destacar a figura do avô, contador de histórias, portador da memória que se transmite por gerações, como na tradição yorubá.

VOLUME II – ORIXÁS – DO ORUM AO AYÊ

A criação dos Orixás (Olorum) (Oxalá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Olorum inicia sua criação, do NADA.
  • Espreguiça seu corpo e, daí, surgem gotículas d’água que vão se avolumando e fazem brotar um ser à imagem e semelhança do criador Olorum.
  • Olorum cria Oxalá, o primeiro orixá – lança seu sopro sobre o ser que brotara das águas e ele ganha vida.
  • Olorum segue criando os orixás e Oxalá lhes sopra a vida.
  • Olorum cria o Orum, a morada dos orixás.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • São cinco histórias fascinantes que relacionam o mundo dos deuses ao mundo físico dos humanos, mitos fundadores. Como será importante superar possíveis preconceitos e aprender com a cultura que ajudou a estruturar a nossa própria cultura brasileira.
  • “No início, existia o nada”. – A criação surgiu, então, do nada, de um estado profundo de solidão do criador Olorum. Isso é rico demais!
  • Espreguiçar – A criação surge do ato de romper com a preguiça – importante essa imagem.
  • A metáfora das águas – ocorre também em outros mitos fundadores, a água enquanto fonte primordial da vida.
  • A ideia de incompletude e de coparticipação na criação – o ato de criar surge da sensação de incompletude e o criador deseja que suas criaturas sigam criando. Explorar essa imagem pode gerar discussões muito ricas.

A criação do Céu, o Orum (Olorum)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Olorum cria o Orum, a morada sagrada dos Orixás para que todos vivessem em harmonia.
  • O Orum era a Terra como a conhecemos.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Destacar que, primeiramente, Olorum cria o Orum, com tudo o que há na natureza, onde os Orixás viveram por muito tempo, antes da criação dos seres humanos.
  • Isso é importante para ressaltar que na mitologia dos yorubás, o ser humano não é superior à natureza, ele é parte componente dela. Ela veio primeiro e é mais importante que tudo.

A criação da Terra, o Ayê (Olorum) (Oxalá) (Exú) (Odudua) (Ifá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Olodunmare (Olorum) pede a Oxalá que crie a Terra, o Ayê.
  • A Terra, no início, era um mar sem fim.
  • Olorum dá a Oxalá a missão de criar a terra firme sobre esse imenso mar.
  • Olorum dá a Oxalá uma concha, uma galinha e uma pomba.
  • Oxalá deveria chegar ao mar sem fim, virar a concha para derramar a areia e soltar as aves que espalhariam essa areia, formando os territórios todos.
  • Exú, orixá que atua nos caminhos e guardião do Orum, exige que Oxalá lhe dê as aves, pela sua passagem em direção ao Ayê.
  • Oxalá nega a oferenda e recebe de Exú um feitiço: fica com sua boca seca.
  • Para saciar sua sede, Oxalá se embebeda de vinho de Palma e dorme.
  • Odudua aproveita a oportunidade e, com o consentimento de Olorum, cria a Terra.
  • Odudua consulta Ifá, o orixá dos oráculos, que o orienta a não esquecer a oferenda a Exú.
  • O primeiro pedaço de terra firme chamou-se Ilê Ifé, berço da civilização yorubá.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • A maior referência mitológica que temos no ocidente sobre a criação do mundo está no livro do Gênesis, no Antigo Testamento.
  • Aqui, propomos um trabalho comparativo: A leitura de “A criação da terra, o Ayê”, contraposta à leitura do “Capítulo 1 do Livro do Gênesis”, que trata de como Javé criou o mundo.
  • Cuidados nessa comparação: não a realizar para diminuir uma cultura e engrandecer a outro; fazer o trabalho comparativo no sentido de enaltecer a diversidade e os valores culturais de cada narrativa; destacar as diferenças, mas ressaltar também os pontos em comum, que são muitos.
  • Observar que, embora a mitologia yorubá dê muito destaque aos orixás e os trate como divindades, essa expressão cultural é monoteísta, tal qual a que referimos nessa comparação, a referência judaico-cristã, revelada no Antigo Testamento. Olorum está para Javé, na empreita amorosa e generosa da Criação.

A criação dos seres humanos (Olorum) (Oxalá) (Nanã)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Oxalá recebe a incumbência de Olorum de criar os seres que habitariam a terra.
  • Com a ajuda de Nanã, Oxalá cria os novos seres de barro, a lama do fundo das aguas doces.
  • Nanã adverte – do barro foram criados e ao barro voltarão.
  • Oxalá cria os humanos ã imagem e semelhança dos orixás, tal qual a terra seria a imagem e semelhança do Orum.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Continuação do trabalho comparativo …
  • Agora a leitura de “A criação dos seres humanos”, contraposta à leitura do “Capítulo 2, versículos de 7 a 25 do Livro do Gênesis”, que trata da criação do homem e da mulher.
  • Mesmos cuidados nessa comparação: não a realizar para diminuir uma cultura e engrandecer a outro; fazer o trabalho comparativo no sentido de enaltecer a diversidade e os valores culturais de cada narrativa; destacar as diferenças, mas ressaltar também os pontos em comum, que são muitos.
  • Observar que, embora a mitologia yorubá dê muito destaque aos orixás e os trate como divindades, essa expressão cultural é monoteísta, tal qual a que referimos nessa comparação, a referência judaico-cristã, revelada no Antigo Testamento. Olorum está para Javé, na empreita amorosa e generosa da Criação.
  • Muitíssimo cuidado na interpretação dos textos para não evidenciar valores que não são aceitos em nossa sociedade contemporânea como o machismo, autoritarismo, hierarquização de gênero, etc.

A separação do céu e da terra (Oxalá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Esse texto tem a mesma lógica narrativa da primeira versão, agora contado no pretérito.
  • No início, não havia separação entre o céu e a terra. No céu moravam os orixás e na terra os humanos e havia acesso livre para todos entre desses dois mundos.
  • Na terra, uma mulher convence seu marido idoso a irem ao encontro de Oxalá. O casal pede a intercessão do orixá criador para terem um filho.
  • Oxalá intercede com uma condição: – que a criança jamais pisasse no Orum, terra dos Orixás.
  • O casal é agraciado com um filho que cresce e, curioso, quer saber do lugar misterioso onde o pai dele trabalha. Segue o pai, às escondidas, e chega ao lugar proibido, rompendo a promessa dos pais.
  • Oxalá se irrita e castiga a humanidade. Dali em diante, os humanos jamais pisariam no Orum enquanto estivessem vivos.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Aqui, pode-se seguir as mesmas orientações da 1ª versão, com uma insistente recomendação de que continuem o trabalho comparativo com o texto do Gênesis.
  • A ideia seria continuar contrapondo os textos. Dessa vez, “A separação do céu e da terra (2ª versão)”, contraposta ao “Capítulo 3 do Livro do Gênesis”, que trata da expulsão de Adão e Eva do paraíso.
  • Mesmos cuidados nessa comparação: não a realizar para diminuir uma cultura e engrandecer a outro; fazer o trabalho comparativo no sentido de enaltecer a diversidade e os valores culturais de cada narrativa; destacar as diferenças, mas ressaltar também os pontos em comum, que são muitos.
  • Lembrar do monoteísmo das duas culturas.
  • Aqui, mais importante ainda … cuidado na interpretação dos textos para não evidenciar valores que não são aceitos em nossa sociedade contemporânea como o machismo, autoritarismo, hierarquização de gênero, etc.

VOLUME III – ORIXÁS – RENASCIMENTO

Iroco – A árvore do Tempo (Iroco)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • As mulheres de uma aldeia estão insatisfeitas pois, há quinze anos nenhuma delas consegue engravidar.
  • “Secas”, temendo o abandono de seus maridos, procuram Iroco, a primeira de todas as árvores.
  • Evocam Orô, o espirito que vive em Iroco, para que tenham filhos e tragam novamente alegria para a aldeia.
  • Iroco aceita atender as mulheres, exigindo oferendas em troca.
  • Olorumbi, uma das mulheres da aldeia, diz a Iroco que tem o marido doente e que não pode fazer oferendas.
  • Iroco exige, então que a oferenda seja o próprio filho que ganhará. Ela teria outros, mas esse deveria ser ofertado a Iroco.
  • Olorumbi aceita a condição, mas não cumpre a promessa feita a Iroco.
  • Iroco transforma Olorumbi em um pássaro.
  • Mbama, esposo doente de Olorumbi, percebendo o que ocorrera, esculpe um menino em madeira e oferece a Iroco.
  • Iroco se agrada e devolve Olorumbi a sua família.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Na cultura yorubá, Iroco é a árvore sagrado e representa a ancestralidade e o Tempo, com “T” maiúsculo, o tempo sagrado.
  • Vale ressaltar que a noção de tempo yorubanas não o restringe somente ao aspecto cronológico, o tempo dos relógios pois, nos tempos passados, nem relógio havia. O tempo yorubanos se faz sentir pelas manifestações da natureza, pelos momentos de plantas, de cuidar, de colher, etc.
  • Além disso, considere-se, na cultura yorubá, o Tempo Eternal, que é o tempo das memórias construídas no desfile das gerações, por séculos e séculos, esse é o mais sagrado de todos, pois carrega a tradição desse povo.
  • Daí, a reflexão metafórica … por que “não se pode olhar diretamente para a árvore do Tempo”?
  • Outra … por que “quem olha para essa árvore, enlouquece”?
  • Mais uma … qual a relação da falta de fertilidade das mulheres com o Tempo?
  • Todas essas mitologias narram a relação do sagrado com o terreno e falam da necessidade de os humanos oferecerem presentes aos deuses para agradecer ou para pedir. Na mitologia yorubá, essas oferendas chamam-se ebós.
  • Outro aspecto muito importante a considerar é a ideia do sacrifício, que ocorre nessa história, como em outras também. Mas, nessa história, o ebó, para Olorumbi, era o sacrifício do próprio filho. Essa “prova de amor” ao divino ocorreu quando Javé pediu a Abraão que sacrificasse seu filho Isaac, no Antigo Testamento, para percebermos que essas categorias se repetem nos mitos, de uma maneira geral. Por que elas se repetem?
  • Observar, novamente o poder das mulheres, que querem sempre que as coisas saiam do estado de acomodação e ganhem movimento. Lembrar de Iemanjá, criando as ondas e movimentando tudo.

Oxum o vôo do pavão (Olorum) (Oxum)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Os orixás, enciumados, se rebelam contra Olorum, pois ele tem o axé dos humanos.
  • Reclamam que os humanos esqueceram dos seus deuses e só reverenciam Olorum, o criador.
  • Então, resolvem destroná-lo, planejando uma rebelião.
  • Mas Olorum descobre os planos e pune os orixás, e os castiga, retirando as chuvas do Ayê.
  • Uma grande seca abate a terra, seguida de fome e muitas mortes.
  • Oxum transforma-se em pavão e vai até Olorum, pedir perdão pela ousadia dos orixás.
  • Olorum transforma a Oxum pavão em abutre como forma de simbolizar o sofrimento humano.
  • Olorum perdoa os orixás e devolve as chuvas ao Ayê.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Nessa história, vale atentarmos para o elemento água como o detentor da vida, símbolo da harmonia entre o divino e o terreno, isso ocorre em várias histórias yorubás. A vida brota da água e a falta de vida está sempre relacionada à falta de água.
  • Oxum, a protagonista dessa história, é o orixá das águas.
  • Quando os Orixás se submetiam a Olorum e os humanos aos Orixás, essa harmonia ocorria. Quando há insubordinação de alguns desses atores, ocorre a desarmonia, que é sempre marcada pela falta de água, pela secura, pela escassez.
  • Nesse sentido, vale destacar o papel de Oxum, orixá das águas doces, que se vale da sua beleza, representada na imponência do pavão, para resgatar a vida no Ayê.
  • Observar, novamente o poder das mulheres, que querem sempre que as coisas saiam do estado de acomodação e ganhem movimento. Lembrar de Iemanjá, criando as ondas e movimentando tudo. Lembrar das mulheres na história de Iroco e ressaltar a atitude de Oxum, nessa história, e as transformações a que se submeteu para conseguir recuperar a vida ao Ayê. As mulheres estão sempre ligadas ao movimento da vida na cultura yorubá.

VOLUME IV – ORIXÁS – EM GUERRA

Xangô – Orixá da Justiça (Xangô) (Exú)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Xangô vence a batalha, mas perde muitos soldados e tem muitos outros aprisionados pelos inimigos.
  • Os inimigos tornam prisioneiros alguns soldados de Xangô e ofendem suas honras, oferecendo, inclusive, a Xangô, um cesto com um deles, morto e esquartejado.
  • Os soldados de Xangô estão abatidos, em menor número e cansados.
  • A derrota parece ser iminente na próxima batalha.
  • Xangô vai a Orunmilá, entidade da profecia e pede ajuda para vencer seus inimigos. O mestre dos oráculos prescreve um trabalho a Xangô.
  • Xangô realiza trabalho e passa a ter domínio sobre o fogo.
  • Assim, Xangô vence seus inimigos.
  • Piedoso, Xangô não elimina seus inimigos, tornando-se o orixá do equilíbrio e da Justiça.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Xangô é um orixá muito intimamente ligado ao elemento fogo.
  • Relaciona-se à cristalização do magma dos vulcões, tornado rocha. Xangô é o fogo contido nas pedreiras.
  • Como veremos em outra história, “Os nove eguns”, e nessa história que estamos tratando, Xangô recebe de presente divino, o poder de ter o fogo como aliado e este elemento sempre o ajuda a vencer os seus inimigos, mas há um desafio.
  • O desafio é saber controlar o fogo.
  • Metaforicamente, o fogo representa a potencia criativa e transformadora, oriunda do centro da terra, ou, no plano de nossas vidas, aquela que brota do nosso mais profundo interior. Sem esse fogo, a terra não produz, não há agricultura, não há colheitas, não há alimentação, não há vida. Sem o nosso fogo interno, não ocorrem também as pulsões de vida que nos movimentam em nossos propósitos.
  • Qual o desafio? – Saber controlar o fogo que temos. Nem fogo de menos, que nos coloca em estado de pouca vitalidade, nem fogo demais, que nos faz queimar a vida, como veremos na história dos eguns, que trabalharemos mais adiante.
  • O controle do fogo nos coloca, inclusive em posição de generosidade, como aconteceu com Xangô, que se sentiu grato pelos poderes recebidos, pela vitória sobre o inimigo e realizou a justiça, não retirando a vida dos derrotados de guerra.

Oxóssi – As feiticeiras Iá Mi Oxorongá (Odudua) (Ogum) (Oxóssi)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Em razão de uma grande colheita, o rei de Ifé, Odudua, pede ao seu filho Ogum que diga aos mensageiros para convidar a todos da cidade para uma grande festa.
  • As feiticeiras Iá mi Oxorongá não foram convidadas e, por vingança, enviam uma ave monstruosa para destruir Ifé.
  • Odudua convoca os melhores arqueiros da cidade para conter a ave.
  • Todos falham, apesar da quantidade enorme de tentativas de cada arqueiro.
  • Oxóssi vai ao rei com uma única flecha.
  • Sua mãe vai ao babalaô e faz uma oferenda para as feiticeiras.
  • A flecha de Oxóssi atinge a ave certeiramente.
  • Oxóssi fica com metade da riqueza do reino.
  • Odudua liberta os arqueiros que foram presos por não lograrem êxito em suas tentativas e convoca uma festa.

ASPECTOS A EXPLORAR NA LEITURA COM OS ALUNOS

  • Oxóssi, o orixá protagonista dessa história, é mais silencioso, menos imponente que Xangô e Ogum, por exemplo. Metaforicamente, é aquele caçador que fica embrenhado na mata, em silêncio, esperando o melhor momento de atirar sua flecha certeira para abater sua caça e prover alimentação à sua aldeia.
  • Oxóssi pesquisa, explora os detalhes, se antecipa, antevê os movimentos do seu alvo, das suas metas.
  • Na história, depois de tantos arqueiros e tantas flechas que não atingiram o alvo, Oxóssi lança uma única flecha certeira, na ave inimiga. Explorar essa metáfora, é muito importante.
  • A metáfora da ave como símbolo de castigo, também é recorrente na mitologia yorubá. O que será que isso significa?
  • Observar, novamente o poder das mulheres, que querem sempre que as coisas saiam do estado de acomodação e ganhem movimento. Lembrar de Iemanjá, criando as ondas e movimentando tudo. Lembrar das mulheres na história de Iroco. Lembrar da atitude de Oxum, que se transformou em pavão e foi transformada em abutre, tudo para recuperar a vida no Ayê junto a Oxalá. Lembrar das feiticeiras de Iá Mi Oxorongá, nessa história, que não aceitaram o fato de serem excluídas e reagiram, inclusive correndo riscos. Lembrar da mãe de Oxóssi, que intercedeu em seu novem junto ao babalaô. As mulheres estão sempre ligadas ao movimento da vida na cultura yorubá.
  • Trabalhar as imagens representativas da condição feminina sempre é muito importante. Deixem as mulheres falarem! Procurem ouvir o que elas têm a dizer. Os educadores homens precisam aprender a garantir a voz das mulheres como já estão condicionados a valorizar a voz masculina.

VOLUME V – ORIXÁS – IKÚ

Por que Oxalá criou a morte (Oxalá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Do NADA, Olorum criou o universo.
  • No início, os seres humanos ofereciam oferendas a Olorum, em gratidão.
  • Mas os humanos deixaram de oferecer seus axés e começaram a se achar maiores que as divindades.
  • Então Oxalá criou a morte, Ikú!

Ikú e suas dimensões humanas (Ikú)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Ikú seria responsável por levar os humanos quando chegasse a sua hora.
  • Ikú realizava seu trabalho com maestria, até se apaixonar por uma mortal.
  • Olojonbodu se casa com Ikú e os dois têm um filho e vão morar afastados de todos, na floresta.
  • Mas ela vai envelhecendo e Ikú, a morte, permanece jovem.
  • Um dia, Ikú sai para fazer seu trabalho, recolher as pessoas mortas.
  • Ikú se depara com a realidade de ter de levar sua mulher e seu filho, que foram mortos
  • Ikú, tem que os levar.
  • Um sentimento de vingança domina Ikú.
  • Como não encontra os algozes da sua família, Ikú resolve castigar toda a humanidade.
  • Inicia a empreitada de matar pessoas antes da sua devida hora.

Exú confunde Humanos ingratos (Exú)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Dois camponeses estão felizes pelo resultado de suas colheitas.
  • Exú está incomodado com a ingratidão dos camponeses, pois não renderam oferendas a Exú, agradecendo os bons resultados.
  • Exú semeia a discórdia entre eles. Os confunde com seu gorro branco e vermelho. Eles brigam entre si e vão até a morte.
  • Exú, então se sente vingado por não ter recebido a devida atenção dos camponeses.

Ikú tem sede de vingança (Ikú) (Orunmilá) (Iansã) (Exú)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Ikú se irrita com Orunmilá por não ter a revelação dos Ifás sobre quem teria matado sua família.
  • Orunmilá foge de Ikú e é protegido por Iansã.
  • Exú enfrenta Ikú.
  • Exú quer barrar o ímpeto de Ikú, de querer levar os humanos antes de suas horas.
  • Ikú está fora do controle, quer acabar com os humanos e com os Orixás.

Taiô e Caiandê, os ibicus, filhos de Iansã e Oxóssi (Iansã) (Oxóssi) (Iemanjá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Iansã gostava de andar pelo Ayê, com disfarce inusitado.
  • Oxóssi se apaixona por Iansã.
  • Iansã também se apaixona por Oxóssi. Juntos têm muitos filhos, dentre eles, Caiandê e Taiô, gêmeos, ibicus.
  • Os gêmeos gostavam tanto de música que até ganharam tambores de Iemanjá.

Como os ibicus contiveram a morte (Ikú) (Oxalá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Os ibicus descobrem que Ikú está levando os humanos antes da hora e, com a ajuda da mãe, Iansã, se organizam para conter Ikú.
  • Ikú ouve o som dos tambores bem na hora em que ia eliminar Exú.
  • Ikú se alegra com o som dos tambores e dança, a morte se alegra!
  • Ikú se cansa e pede para a música parar, mas a música não parava pois os irmãos gêmeos combinaram entre si que quando um se cansava o outro assumia.
  • Os gêmeos impõem uma condição a Ikú, que parariam com a música se ele parasse de ceifar as vidas dos seres humanas antes de suas horas.
  • Ikú aceita a condição dos irmãos. Os Ibicus vencem Ikú!
  • Ikú é banido do Ayê por Oxalá.

O segredo de Oxalá sobre a morte (Iansã) (Oxalá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Oxalá revela a Iansã que a família de Ikú, supostamente morta, nunca existiu, foi uma invenção da própria morte para superar a solidão.
  • Oxalá revela a Iansã que também sugestionou em Ikú a cena da morte de sua família.

VOLUME VI – ORIXÁS – OS NOVE EGUNS

Os nove eguns (Xangô) (Exú) (Iansã)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • Xangô volta vitorioso de uma campanha, mas está incomodado.
  • Em sua última batalha, no meio da guerra, enfraquecido e com o exército cansado, pede ajuda a Exú, que lhe dá um pó vermelho, que o fez cuspir fogo.
  • Xangô sai vitorioso graças aos poderes dados por Exú.
  • Vencedor, Xangô para numa aldeia e é a atração de todos, exibido que era.
  • No outro dia, a pedido de uma garotinha, Xangô engole o pó vermelho de Exú em grande quantidade e perde o controle sobre o seu fogo, queimando a aldeia inteira.
  • Muitas pessoas morrem, virando eguns.
  • Os eguns passam a persegui-lo.
  • Iansã afasta os eguns com uma artimanha conhecida.
  • Xangô volta para reconstruir a aldeia destruída
  • A garotinha reaparece para se despedir de Xangô.

Orum a Oxu ou Como Iemanjá criou a Lua (Iemanjá)

O QUE A NARRATIVA NOS CONTA

  • No início de tudo, o Orum é somente o Sol.
  • Por isso, no Ayê, só havia dia e o sol deixava tudo seco.
  • Seres humanos e animais começaram a morrer e a vida começou a ficar comprometida.
  • Então os orixás se reuniram e Iemanjá teve uma ideia.
  • Iemanjá retira do sol alguns de seus raios e cria um novo astro.
  • Iemanjá ordena ao sol que descanse e cria Ou, a Lua.

 

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