Geografia imaginária
(conteúdo complementar do livro Continentes, de Gabriela Romeu e Anita Prades)
1) Quintal continental
Imagine um mundo onde tudo se transforma. Nesse universo, o tamanho das coisas também cresce ou diminui em um piscar de olhos, suas cores podem ter os tons da manhã ou do que é filho da Lua e, se reparar bem, há coisas que só nascem no hemisfério norte e outras originárias do hemisfério sul.
Ali, alguns seres são agarrados ao chão e outros guardam histórias nas asas. Há ainda os que se revelam somente ao anoitecer. Não importa o exato tamanho desse lugar, ele tem sempre uma dimensão continental. Quer dizer, pode ser grande como um continente, que é uma porção de terra ladeada de águas (ou rodeada de muita imaginação!).
Os continentes reúnem muitos países, povos diversos, línguas variadas. Sim! Já ouviu a fala das criaturas aladas (aquelas cheias de asas e rasantes)? Reparou como as nervuras das folhas são estradas para muitos seres? Ou como bichos rastejantes reinventam todos os dias novos mapas no chão?
Esse lugar continental de tão grande tem um nome e acredito que você o conhece bem: é o quintal! Ou vai me dizer que o lugar onde brincamos não é um verdadeiro atlas com uma geografia cheia de cordilheiras, montanhas e colinas. Onde surgem ilhas, vales, brejos e desfiladeiros. Lá, em um só minuto, é possível cruzar uma densa floresta e chegar a um deserto. Ninguém sabe muito bem quais são suas fronteiras.
Bem, se você me disser que os quintais não são assim ou que isso é coisa de gente que sonha mundos, eu te digo: é possível transformar muitos lugares para brincar de inventar continentes, sim! E é o que faz a protagonista deste livro: em um dia de brincadeiras ao redor de sua casa, cria geografias imaginárias em seu quintal.
O mais legal é que podemos brincar de geografia imaginária em qualquer quintal: na sala, debaixo do sofá, na varanda, no condomínio, no pátio da escola, nos fundos da casa, em uma pracinha. É o que tenho aprendido nos últimos anos com as crianças, em diferentes regiões do país: elas transformam os mais variados espaços em campos de invenção, locais onde a imaginação não tem mesmo fronteiras.
Como este livro é um convite para imaginar e brincar, pensei em duas formas para que a gente siga inventando mundos de quintais. Depois de ler o livro e se divertir com as atividades, não se esqueça: aproveite para brincar no quintal!
Gabriela Romeu
2) Atividades
Mapa do continente
Que tal desenhar um mapa do seu continente (quer dizer, do seu quintal)?
Um mapa pode ser feito de muitos jeitos. Há mapas que indicam caminhos e rotas e eles são muito úteis para nos localizarmos no mundo, descobrirmos as fronteiras entre cidades, países, regiões. Os mapas são, então, uma maneira de representar o espaço. Mas existem os mapas que são criados para contarmos histórias e é desse mapa que estou falando aqui. Podemos chamá-lo de mapa de narrativa, pois conta como as pessoas (no caso, você que me lê aqui) se relacionam com os lugares desenhados.
Ao criar o mapa do quintal, vale indicar no desenho como é esse lugar onde você brinca, o que tem nele (árvores, pedras, bichinhos, plantas, objetos, cores, sons…), quais são os cantos preferidos ou secretos, espaços para escorregar, escalar ou até descansar e que aventuras e lembranças eles guardam e tudo o mais que revela sua relação com esse lugar. Esses são alguns exemplos, com certeza você saberá o que não pode faltar ao desenhar o mapa. Para criar essa cartografia, assim como fez a artista Anita Prades no livro Continentes, cabe imaginar e inventar e incluir ali o que você gostaria que existisse no seu quintal, que pode ser em casa ou na escola.
Materiais: papel (A3 ou A4 são ótimos!); riscadores (lápis de cor, canetinhas, gizes de cera); cola, tesoura, revistas e jornais para serem usados no caso de colagens.
Inventário de criaturas
Outra atividade para brincar de transformar o quintal em continentes é criar um inventário de criaturas. Quando fazemos um inventário, criamos uma lista de coisas – ou ideias e sentimentos. Por exemplo, fazemos o inventário das flores de um jardim, dos brinquedos de uma criança ou de tudo relacionado a uma festa. Mas o curioso é que a palavra inventário também guarda a ideia de invento ou invenção. Já reparou? Então a ideia aqui é misturar as duas ideias que a palavra guarda: fazer uma lista de seres e também brincar de inventar criaturas. Essa foi a brincadeira da ilustradora Anita Prades no livro Continentes!
Primeiro, volte ao livro e repare nos seres criados por ela. Viu que tem peixe-solar (bicho de nadadeiras e cabeça de sol), saleironhoto (ou mescla de saleiro e gafanhoto), chaleira que entra em erupção tal qual um vulcão e marlelobo (um martelo com jeitão de lobo), entre diversas outras criaturas curiosas que podem inspirar suas invenções. Depois, olhe ao redor, repare bem nas coisas do seu quintal, que, de novo, pode ser a sala, um jardim, uma praça… Quais são os bichos e as coisas encontradas nesse lugar? Anote-as no papel, criando uma lista (ou um inventário) feita de palavras ou desenhos (ou os dois!). Pode ser divertido separar todos os entes com garras daqueles que deixam rastros, por exemplo. Por último, desenhe, faça colagens ou pequenas esculturas (com objetos) e, se curtir, dê nomes para os seres desse mundo todo seu.
Materiais: papéis ou um caderninho; riscadores (lápis de cor, canetinhas, gizes de cera); cola, tesoura, revistas e jornais para serem usados no caso de colagens.
3) Outros quintais
Quer conhecer mais quintais para seguir brincando? Então confira abaixo outros livros que abrem janelas para muitos mundos e um tanto de jeitos de brincar.
Terra de cabinha – Pequeno inventário da vida de meninos e meninas do sertão
Gabriela Romeu
Ilustrado por Samuel Macedo
17.5 x 27.5 cm • 96 páginas • 4 cores • ISBN 978-85-7596-415-6
Livro digital ISBN 978-85-7596-446-0 (KF8) e 978-85-7596-418-7 (ePUB)
Livro premiado!
Terra de cabinha é um livro que pode ser lido de muitas maneiras: como um diário de viagem pelo sertão do Cariri cearense; como inventário que apresenta bens culturais e artísticos dessa região brasileira; como registro etnográfico em diferentes linguagens (jornalística, poética, fotográfica, audiovisual e plástica); como almanaque contendo diversos gêneros textuais que informam, divertem e surpreendem, simultaneamente. Traz histórias, causos, brincadeiras, receitas, versos e adivinhas. Aqui, você ouve a voz do cabinha, dos mestres e contadores de histórias, e da pesquisadora visitante, que registrou num caderninho as coisas mais interessantes a respeito de como vivem aqueles meninos e meninas.
Lá no meu quintal: O brincar de meninas e meninos de Norte a Sul
Marlene Peret, Gabriela Romeu
Ilustrado por Kammal João
19 x 25 cm • 4 cores • ISBN 978-85-7596-646-4
Livro digital ISBN 978-85-7596-647-1 (KF8) e 978-85-7596-648-8 (ePUB)
Livro premiado!
O brincar é uma espécie de língua-mãe da infância. E foi por meio dessa linguagem que Gabriela Romeu, Marlene Peret e Samuel Macedo conheceram o Brasil, conectando-se com as crianças das beiradas de rios, dos grandes centros urbanos, de comunidades quilombolas e povos indígenas – regiões algumas vezes próximas; outras, bem distantes. Os registros dessa longa viagem, que se iniciou em 2011, em textos, vídeos e fotos, estão reunidos neste livro, permeado dos saberes, narrativas e vivências compartilhadas com crianças em seus quintais.
Álbum de família: Aventuranças, memórias e efabulações da trupe familiar Carroça de mamulengos
Gabriela Romeu
Ilustrado por Catarina Bessell
17.5 x 27.5 cm • 96 páginas • 4 cores • ISBN 978-85-7596-601-3
Livro digital ISBN 978-65-8602-800-3 (KF8) e 978-85-7596-602-0 (ePUB)
Livro premiado!
Álbum de família é uma biografia poética, a biofantasia da trupe familiar Carroça de Mamulengos, uma das mais importantes companhias culturais do país. O grupo mambembe foi criado há mais de 40 anos, na década de 1970, por Carlos Gomide, o Babau, menino de muitos sonhos, discípulo de mestres bonequeiros do nordeste tradicional, que se enamorou de uma moça de grandes saias rodadas e com ela se aventurou pela arte, trilhando juntos muitos caminhos. No espetáculo da vida, nasceram os oito filhos, todos crescidos na estrada, cada um deles com um talento diferente para desvendar o mundo, inaugurando uma cena nova.
Irmãs da chuva
Gabriela Romeu
Ilustrado por Anabella López
24 x 30 cm • 80 páginas • 4 cores • ISBN 978-65-5931-031-9
Livro digital ISBN 978-65-5931-033-3 (KF8) e 978-65-5931-032-6 (ePUB)
Livro premiado!
No desenrolar dessa narrativa fantástica, que brinca com o sincretismo dos saberes do homem e as forças da natureza, o leitor vai reconhecer o encanto e a graça da cultura do Brasil mais profundo, ouvir os ecos de crenças e invenciones dos muitos sertões brasileiros, que resistem na voz e coração de cantadores e contadores, de violas e pelejas, benzedeiras e suas proezas. Um verdadeiro conto de fadas brasileiro, ambientado entre o real e o imaginário, a poesia bordando a paisagem. As gravuras criadas pela artista Anabella López, argentina que adotou o nordeste brasileiro como residência e fonte criadora, recriam o imaginário sertanejo por meio da linguagem simbólica da narrativa do herói, das cartas do tarô, das runas e outras formas divinatórias.
Diário das águas
Gabriela Romeu
Ilustrado por Kammal João
16 x 21.7 cm • 4 cores • ISBN 978-65-5931-221-4
Livro digital ISBN 978-65-5931-214-6 (KF8) e 978-65-5931-222-1 (ePUB)
Livro premiado!
Neste diário ilustrado, o tempo é o da escuta e o ritmo, o do rio. Os encontros são pelas funduras das águas e pelas suas margens, nas brincadeiras das crianças, nas memórias dos mais velhos e nos lampejos da imaginação de uma poeta viajante. Aqui, o leitor é convidado a olhar ao mesmo tempo para as miudezas e para a imensidão, como se a vista pudesse ultrapassar a bruma da natureza e investigar a origem e a beleza de todas as coisas. No vai e vem das páginas, surgem versos-piracemas, listas, nomes, receitas, poemas e dizeres compostos com os registros em desenho do artista Kammal. Suas ilustrações investigam os silêncios das entrelinhas, as brechas das palavras, os não ditos do texto.
Noite de brinquedo
Antonia Mattos, Gabriela Romeu
Ilustrado por Luci Sacoleira
18,.5 x 23 cm • 128 páginas • 4 cores • ISBN 978-65-5931-236-8
Livro digital ISBN 978-65-5931-235-1 (KF8) e 978-65-5931-239-9 (ePUB)
Livro premiado!
Maria, menina rainha, cresceu brincando reisado. Até que um dia, assim como manda a tradição desse folguedo, ela precisa passar a coroa para uma menina mais nova. Não bastasse o desafio de viver esse rito de passagem e crescer, coisas estranhas acontecem nesse momento, e Maria é convocada a atravessar o sertão numa noite escura sem fim. Apoiada em suas lembranças e nos antepassados, ela conta com a ajuda de seres encantados e personagens lendários para, aos poucos, desvendar os mistérios que se colocaram em seu caminho.
Permeada dos saberes da cultura brasileira, a narrativa tem uma estrutura que lembra um conto acumulativo, e não nos deixa esquecer do dom de sonhar junto, da perseverança e do entusiasmo necessários para trilhar a jornada.
Como diz a corajosa Bel Santos Mayer no prefácio deste livro: para aproveitar esta travessia, “é preciso colocar as certezas de gente grande em descanso, correr a passos miúdos para o longe da infância e entregar-se a encantos e encantadas”.
Um irrecusável convite!
Para saber mais:
www.editorapeiropolis.com.br/curadoria-gabriela-romeu/
https://mapadobrincar.folha.com.br/
1 Comment
Vou compartilhar com amigos, vale a leitura.
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