Prefácio de Magda Soares
Ao livro Quando o segredo se espalha
Abri o livro, sintonizei a Rádio Peirópolis, estava no ar o programa Catiripapo: Francisco Marques – o Chico dos Bonecos! – entrevistava… que surpresa!
Reeencontro-a, reencontro-me! Reencontro-me: eu, recém-bacharel em Letras Neolatinas, inteiramente cativada pela literatura, encarava com pouco entusiasmo o ano em que deveria cumprir as matérias pedagógicas, que me fariam licenciada, credenciada para ser professora. Matérias pedagógicas… que mundo árido deveria ser, tão diferente, supunha, do mundo rico da literatura!
Mas eis que… encontro-a! A disciplina se chamava Didática de Português, e a professora era ela… falando de quê? de literatura, de poesia… mostrando-nos que o fascínio que a literatura, a poesia tinham despertado em nós, poderíamos, nós também,despertar em crianças e jovens. Citava autores, obras, trazia belos textos, poemas, que lia com emoção, e depois nos orientava sobre como poderíamos gerar e desenvolver essa emoção, esse encantamento, nas crianças e jovens que teríamos como alunos.
E agora eis que… reencontro-a! e reencontro-me: de novo me vejo na sala de aula, ouvindo-a… ela agora conversa com o Chico dos Bonecos, mas conversa comigo também, e reaviva em mim o prazer que me incutiu, e que nunca perdi, de ser professora de língua, de literatura, de introduzir crianças e jovens no mundo mágico da poesia. E vou descobrindo o que na época não sabia: como se foi construindo nela a sensibilidade literária, o encantamento poético, e o desejo e compromisso de despertar em outros essa sensibilidade, esse encantamento, sem os quais se perde muito do que a vida nos pode dar de prazer, de enlevo, e também de compreensão, de experiência, de conhecimento.
Para os que tiveram o privilégio de encontrá-la quando entre nós estava, o rico diálogo entre Alaíde Lisboa de Oliveira e Chico dos Bonecos lhes dará a alegria do reencontro, que é lembrança, que é saudade, e que é reavivamento do que ganhamos no convívio com ela.
Para os que não tiveram o privilégio do convívio, há agora a oportunidade de desfrutar dele, graças a esta feliz invenção de um novo gênero – uma entrevista radiofônica fictícia, mas… tão real! – em que a nossa Mestra Alaíde lhes oferece, e em nós confirma,o encantamento pela literatura, pela poesia, e o compromisso de levá-lo aos que têm o direito de que neles ele seja despertado.
Magda Soares
2 Comments
Não é Alaíde quem está no centro das atenções do texto. Ela é apenas o pretexto genial – portanto, a que, homenageada, encontra o outro gênio – para reflexões sobre a infância e sobre a poesia para crianças. Para crianças, pois este Livro é uma aula que valoriza os alunos. Uma aula que resgata o fazer poético e nos relembra que as crianças não são mais ou menos inteligentes do que os adultos; são apenas diferentes, pois imaginativas em suas maneiras de estar no mundo. E o professor que não sabe onde está a imaginação e o interesse do menino ou da menina para quem leciona deve procurar daqui, deve procurar de lá…
Até que encontre as crianças, no meio da poesia.
Aliás, poemas são para quem, vez por outra – seja de dia, seja de noite – possui a capacidade de acender vaga-lumes.
O autor, em suma, declama sua arte por sobre os ombros bem escolhidos da gigante Alaíde.
Sem mais delongas, o Livro, apaixonante, reconta temas pedagógicos e literários de que não podemos nos esquecer, sob o risco de fazermos a fonte da juventude secar ou sob o risco de transformarmos as crianças em meros objetos de nossa capacidade de lhes impor esforços – ou tão somente algumas gramáticas irregulares.
Caro Vinicius, ficamos muito felizes que compartilhe conosco a preocupação sadia com a formação do leitor literário. Continue a nos ajudar a divulgar estas e outras ideias da Profa. Alaíde Lisboa de Oliveira, que são suas e são nossas, sempre tão atuais. Grande abraço, Peirópolis.
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