Mini-entrevista Caeto: quadrinização do conto de Lima Barreto - Editora Peirópolis

Mini-entrevista Caeto: quadrinização do conto de Lima Barreto

Peirópolis: Como foi a escolha de quadrinizar “O homem que sabia javanês”, do Lima Barreto? Por que este conto?

Caeto: Eu queria quadrinizar algum texto do Lima Barreto, ele tem uma escrita com uma leitura muito boa da sociedade do tempo em que viveu, muita coisa se liga ao comportamento dos brasileiros de hoje em dia. Essa coisa da desigualdade social e da malandragem para se dar bem. Esse complexo de vira-lata, que vem com um olhar superioridade que damos para as coisas que vem de fora, acho isso interessante nesse conto.

P: O texto que encontramos na HQ é praticamente a versão integral, escrita pelo Lima. Mas há algumas frases que não estão na versão em HQ. Como foi esse processo? O que leva a substituir o texto escrito por uma imagem?

C: Esse conto é muito curtinho, com pouco texto, tentei tirar o mínimo possível na hora de adaptar para a HQ, só tirei o que tornaria redundante na hora de aplicar as imagens desenhadas.

P: Você realizou algum tipo de pesquisa para desenhar este livro? Quais foram as suas fontes?

C: Olhei algumas imagens de vestimenta da época e ambientes, mas o meu trabalho em geral como quadrinista, tanto nas adaptações como nos livros autorais, é muito objetivo, ao contar a história da maneira mais simples. Não faço muitas variações de roupas, nem de formatos de rostos e corpos. Minha atenção está mais voltada para a arte final do preto e branco clássico, com efeitos simples e fáceis de assimilar que ensino para os meus alunos de desenho.

P: Algumas pessoas consideram que ao ler uma obra clássica em versão mais próxima e familiar, como são as HQ, os jovens leitores se sentirão mais conectados com textos mais antigos. O que você pensa disso? Ao quadrinizar, você tem essa preocupação, de aproximar mais uma obra clássica dos jovens leitores?

C: Acho que um desenho pode tanto ser atraente, como pode repelir na escolha da leitura de uma HQ. Pensando dessa maneira, acho que meu desenho atrai jovens que têm algum tipo de conexão com o universo artístico que me atrai. Mas acredito que o desenho ajuda na hora de conquistar o leitor para esses textos mais clássicos.

P: Pela Peirópolis, você também quadrinizou A morte de Ivan Ilitch há alguns anos. Como esses dois trabalhos se conversam?

C: Os dois textos são narrados por personagens que fazem parte das histórias. No caso de O Homem que sabia Javanês, ele aparece contando a história na mesa do bar e essa fase da vida do personagem faz parte do desenho, e ajuda moldar sua personalidade, contando como ele se sente em relação às coisas que fez no passado, se há arrependimento ou não.

P: E por fim, você também tem obras completamente autorais, Memória de Elefante e Dez anos para o fim do mundo. São processos muito distintos da quadrinização de um clássico? Ou há diálogos possíveis?

C: A diferença é que criar um texto, dá muito mais trabalho que editar um texto pronto. Em alguns momentos, é muito sofrido remexer o passado para criação de livros autobiográficos como o Memória e o Dez anos para o fim do mundo.

Para adaptação de texto, o importante é tentar decifrar o tipo de intenção que ele quer transpassar sobre alguma leitura que faz sobre determinado personagem.

 Imagino eu, nesse momento em julho de 2023.

 

 

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