Impressões de leitura - Diário das águas - Editora Peirópolis

Impressões de leitura – Diário das águas

“Margens, beiradas, mariscadas. Léguas, lampejos, paragens. Se me perguntarem de onde trago essas palavras, direi que naveguei no casquinho de Gabi, percorrendo igarapés, rotas e tempos outros – marcados pela natureza. A sintaxe da água, antiga matéria despertadora da imaginação de poetas e artistas visuais, símbolo que carrega a contemplação dos corpos fluidos, é mesmo fascinante.

E são essas águas que cantam mistérios e que se abriram no caderno da escritora Gabriela Romeu, batizada nos pingos das infâncias brasileiras, pesquisadora marcada pelo frescor das paisagens literárias e dos sabores de chãos, rios e mares.

Seu livro novo é como uma maternidade das águas, um lugar banhado de inícios: de épocas escorridas em fenômenos, luas e lendas; de corredeiras que inundam brincadeiras; de sílabas e métricas alagadas de movimentos; de silêncios e curvas desviadas em pedras; de piabas nutridas de conhecimento; de cachos de correnteza capazes de moldar pororocas.

Se Gabi costuma fazer a gente viajar pelo Brasil através das histórias que narra, desta vez ela colocou a gente em seu barco. É remando com a autora que descobrimos suas memórias submersas, entramos em seu diário e dali percorremos lembranças, poemas, receitas, mapas e curiosidades que serpenteiam as palavras, ventilam as vidas e entardecem os sonhos.

Com seus escritos e fragmentos, conhecemos também a infância dos rios, esse substantivo alegre. Nos desenhos de Kammal João, remamos a bordo das delicadezas, desembocamos em estradas de terra e água, talvez as duas estações das infâncias cartografadas nessa obra que tem como compromisso o registro do sentir.

Por fim, a contemplação da matéria é também perguntadeira. E já que dividimos o casquinho, quero saber de Gabi em suas marés: Você já voltou das águas? Tem causo ribeirinho que é sonho? A quem você daria uma capa de chuva? Tem saudade de pular no rio? Qual o segredo das rimas das águas? É melhor sentir água no assoalho ou na canela? Como remam as crianças no Velho Chico? De que transbordam as infâncias? E quantas luas faltam para o lançamento desse Diário?”

Esse texto foi escrito por Thais Caramico. Ela é sócia-fundadora do Estúdio Voador. Formada em Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP-2004), cursou Máster em Livros e Literatura Infantil e Juvenil na Universitat Autònoma de Barcelona. Também é formada em Pedagogia para Liberdade, é educadora no Coletivo Miudezas e pesquisadora na Biblioteca de Fora, projeto que idealizou de forma independente e agora segue como pesquisa de mestrado (PGEHA-USP) sobre a relação com a natureza nos livros para a infância.

 

 

Leia todos os comentários sobre a obra

Add Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Olá! Preencha os campos abaixo para iniciar a conversa no WhatsApp

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com