Marie Ange Bordas lança o Manual da criança caiçara na livraria Farol, Iguape - 14/04 - Editora Peirópolis

Marie Ange Bordas lança o Manual da criança caiçara na livraria Farol, Iguape – 14/04

Resultante do prêmio Interações Estéticas em Pontos de Cultura, o livro da fotógrafa e educadora Marie Ange Bordas busca diminuir as distâncias entre cultura caiçara e cultura dominante no Brasil. Depois de lançá-lo em fevereiro em São Paulo, a autora realiza lançamento na comunidade com a qual trabalhou, no Iguape, dia 14/04, com a presença das crianças da Barra do Ribeira.

Depois de 10 anos desenvolvendo projetos colaborativos de arte e jornalismo em comunidades de refugiados e com crianças e jovens na Europa, África do Sul, Quênia, Etiópia, Sri Lanka e Colômbia, a artista visual e educadora Marie Ange Bordas retornou ao Brasil para dedicar-se a um projeto de valorização das culturas tradicionais brasileiras através dos saberes e fazeres de suas crianças. O Manual da criança caiçara é fruto de seu encontro com os moradores da comunidade da Barra do Ribeira, em Iguape, litoral sul de São Paulo, e foi elaborado de forma a conduzir o pequeno leitor àquele universo cultural.

Para realizá-lo, Marie Ange elaborou um projeto chamado “Laboratório de Saberes Caiçaras”, um dos contemplados com o prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, do Ministério da Cultura. Realizado entre 2010 e 2011, a proposta do laboratório foi criar um espaço onde as crianças fossem as protagonistas do resgate e da valorização de sua cultura caiçara de forma lúdica e participativa.

Um dos exercícios que Marie Ange propôs às crianças foi o diálogo com uma “marciana”, no caso ela, no papel de alguém que nada sabe daquele povo e daquele lugar. Com isso, estimulou o reconhecimento e valorização da cultura caiçara, além de combater preconceitos arraigados, como o que diz que o caiçara é “preguiçoso”. As fotoilustrações do livro também são resultado deste processo colaborativo, misturando fotos de paisagens e personagens locais com os desenhos realizados pelas crianças e pelo jovem ilustrador local, Henrique Ripari. O livro também conta com quatro histórias da escritora Meire Cazumbá e com um texto do antropólogo Antonio Carlos Guedes sobre cultura caiçara (disponível abaixo).

Manual da criança caiçara foi lançado no dia 4 de fevereiro de 2012, na Livraria da Vila (São Paulo), e contou com a presença de crianças e jovens que assinam o trabalho com Marie Ange. A publicação teve apoio do ProAC – Programa de Ação Cultural 2010 do Governo da Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo. Durante o processo do “Laboratório de Saberes Caiçaras”, Marie Ange contou com a parceria da Associação Jovens da Jureia. Neste mes de abril de 2012, chegou o momento de celebrar a realização junto à comunidade.

Para conhecer mais o trabalho de Marie Ange Bordas, visite o site da autora, que traz produções realizadas na África, Europa e Estados Unidos – http://www.marieangebordas.com/ – e leia entrevista concedida pela autora e publicada na seção Sala do Professor. Veja também a seção de clipping do livro, com outras entrevistas concedidas por Marie Ange Bordas.

Confira em seguida o texto de Antonio Carlos Guedes e o sumário do livro.
Para acessar o convite e o release do lançamento no Iguape, clique aqui.


A CULTURA CAIÇARA

por Antonio Carlos Guedes
Antropólogo e coordenador científico do Nupaub-USP

Os caiçaras, até pouco tempo, só eram conhecidos por quem visitava o litoral entre o Paraná e o Rio de Janeiro. Os turistas podiam ver de perto seu modo de vida definido pela pesca tradicional em canoas feitas de um tronco só, o artesanato e o cultivo de pequenas roças. Mas nem sempre chegavam a conhecer esta cultura rica, marcada por músicas e danças como o fandango e as cirandas, e festas como o Reisado. Com seu jeito muito próprio de falar, o caiçara também podia revelar ao visitante todo o seu conhecimento aguçado das plantas, dos peixes e dos animais que vivem na Mata Atlântica.

Infelizmente, tudo isso está ameaçado. As crianças caiçaras e as suas famílias correm o risco de perder sua identidade, sua história e muitas coisas importantes para elas. E por que isso acontece? De um lado, está a especulação imobiliária, que invadiu as praias para a construção de grandes condomínios. Do outro, os parques naturais, onde são proibidas as atividades tradicionais dos caiçaras. O resultado é que eles têm sido forçados a se mudar para os bairros mais afastados das cidades, longe das praias.

Assim como os quilombolas, os índios, os caboclos, os caipiras, os caiçaras são conhecidos como “povos e comunidades tradicionais”. Em 2007, uma lei federal – ou seja, que vale para todo o Brasil – criou a Política Nacional de Desenvolvimento dos Povos e Comunidades Tradicionais. Essa lei diz que é preciso valorizar essas culturas, garantir que continuam existindo e que sejam conhecidas por cada vez mais gente, para que não se percam as tradições passadas entre gerações.

Este Manual da criança caiçara foi produzido a partir da contribuição das crianças caiçaras da Jureia. Por meio de diálogos, vão surgindo com força os diferentes aspectos da cultura material, como as técnicas de pesca, da pequena agricultura, do artesanato; e também da cultura imaterial, como o fandango, a preparação da comida, as lendas, as representações do mundo natural. Em especial do mar, da mata e dos seres, visíveis e invisíveis, que ali vivem. Tomara que toda esta riqueza entre nas salas de aula, dialogando com outras crianças brasileiras e inspirando seus professores.


SUMÁRIO

Manual para marcianos
Ser criança caiçara é
Palavras em tupi
Peixe na cueca
Brincadeiras
Férias no Grajaúna
No túnel do tempo
Fandango
Comidas
Tecnologia
A árvore que nasce do céu
Seu Sátiro
Cobras e Lagartos
O Teiú
Os Bichos
Mundo Animal
Causos da bicharada
O exército das mutucas
Histórias de assustar
Lixo, não
Quatro em um
Caderno do Lucas
Pesca artesanal
Em extinção
Curiosidades
Conchas do grajaúna
Fazendo livro
A cultura caiçara + Mapa da Jureia

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