Sábado, 11/6, 16h, Angelo Abu e Macunaíma em quadrinhos na Casa Mário de Andrade, em São Paulo - Editora Peirópolis

Sábado, 11/6, 16h, Angelo Abu e Macunaíma em quadrinhos na Casa Mário de Andrade, em São Paulo

OC_CMA_MACUNAIMA_QUADRINHOS_JUNHO_2016 (1)Os quadrinistas Angelo Abu  e Dan X lançam a quadrinização da obra Macunaíma, de Mário de Andrade.

Angelo Abu narra em quadrinhos a aventura  de fazer a adaptação da obra de Mário de Andrade, “comer tudo muito bem comido até o tutano pra poder regurgitar bem”. Leia a entrevista.

Abu

Como surgiu a ideia de quadrinizar Macunaíma?

Uma feita a cunhatã dona da máquina de fazer livros disse que eu podia escolher uma história que fosse de muito meu agrado pra virar ela em língua Gibi. Matutei, matutei e não conseguia lembrar de nenhuma. Um dia meu dedão me fez pensar em Sofará. Então me lembrei do Macunaíma. No outro dia resolvi que ia convidar meu cumpadre pra acudir. Fiz.

Quais são as principais dificuldades durante o processo de adaptação/roteirização de um livro para os quadrinhos? Quanto tempo levou para adaptar a obra?

Escolher que parte que não ia entrar não. Essa era a parte mais difícil. Mas outras vezes também era fácil. E dava prazer de deveras poder destrinchar toda aquela pacuera escrita. De primeiro a gente ia contando firme as luas que passávamos trabucando. Já ia pra mais de três vezes cem luas quando desistimos de seguir contando vendo os ipês de beira-rio relampeados de novo de amarelo.

Muitas das obras clássicas da literatura nacional possuem textos considerados arcaicos por muitos jovens leitores. Isso dificulta a leitura e faz com que os mais novos se desinteressem pelo livro. Na sua opinião, qual papel das adaptações para HQ na preservação histórica da literatura?

Porém Macunaíma já nasceu clássico da língua desarcaica da terra, o brasileiro falado. Macunaíma já nasceu Gibi, mesmo que ainda desdesenhado. Só que mesmo assim resolvemos desenhar tudo por amor de ver como ficava.

Você enxerga a adaptação para os quadrinhos como uma forma de aumentar a procura por esse tipo de leitura e de aproximar os jovens dessas obras?

Sim. Pra lerem o livro em língua escrita e sentirem raiva das partes que deixamos de fora. Sentir raiva dos desenhos e de tudo o mais. E dar água num chocalho pra imaginação, e imaginar, muito que bem, tudo muito diferente.

Como você avalia essa nova tendência – da adaptação de clássicos para HQ – no mercado editorial? Você acredita que os quadrinhos terão longa vida neste nicho?

Espinho que pinica de pequeno já traz ponta. Quanto mais versões, mais vasta a realidade. Porém o mal ganhado diabo leva.

Na sua opinião, a temática da obra ainda continua atual?

Por mais que Macunaíma morra, acaba sempre arrumando um jeito de voltar piá.

Qual a sua ligação com o autor? Já tinha lido outras obras dele? Qual a sua favorita e por quê?

A Macumba se rezava cada semana. Sempre que dava pedimos a opinião pra ele. Li muito do que ele escreveu para a máquina jornal. Macunaíma é a preferida, por tantos motivos quanto mamas tem em cadela parida.

Como foi ilustrar esta obra? Conte um pouco sobre o seu processo de criação.

Depois de muito ler e discutir com meu cumpadre, a gente limava a banha da pacuera escrita, rabiscava bem tudo que ainda ia acontecer, e discutia de novo, e desenhava de novo no desenho do outro, e deixava sangrar. E pintava com tinta da china feito jenipapo com pincel seco de rabo de boi, e pincel molenga do dorso do bicho-marta e depois deixava secar. Então dava eles em oferenda para a máquina escâner e escrevia tudo na máquina lepitope e devolvia as cores pra suas sombras. Era assim.

Qual a técnica utilizada nas ilustrações? Qual o conceito por trás das ilustrações?

Por causa de tudo ficar sempre muito virado em tudo no livro e por causa de ter tantas histórias caxinauás, ariti taulipangue bororo, de todas estas gentes dentro da história, era por bem deixar o estilo de tudo bem metamorfado. Fizemos. Misturei meus desenhos com os do meu cumpadre, variamos nosso próprio jeito em cada quadro, mudamos de material quando deu na veneta, nos fingimos de pintor, deixamos tudo em estilo bem mutante e rapsodiado.

Adaptações de obras de quadrinhos muitas vezes pecam por serem muito literais. Que cuidados você teve para manter a sutileza das ilustrações para que elas pudessem agir de forma complementar ao texto original sem ofuscá-lo?

O cuidado de comer tudo muito bem comido até o tutano pra poder regurgitar bem. Às vezes pecavam de voltar pedaços meio inteiros, mas quase tudo vinha bem ruminado em algo outro.

Gostaria de acrescentar algo mais?

De tanto adaptar Macunaíma acabamos viciando em só desacrescentar palavras. A principal dificuldade. Mas também a melhor.

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