Patricio Casco: muito além da Educação Física - Editora Peirópolis

Patricio Casco: muito além da Educação Física

Os jogos, a criatividade e seu poder emancipatório

Como expôs em sua apresentação no I Encontro de Educação e Inclusão Social por meio de Linguagens Lúdicas e Artísticas, Patricio reflete sobre os valores que sustentam o universo dos esportes hoje ? valorização extrema da técnica, padrões estéticos rígidos e a vitória como único objetivo ?, os mesmos que regem a sociedade guerreira, machista, tecnicista e violenta em que vivemos.

Além de buscar desenvolver uma postura crítica em relação a eles, ele também propõe que novos valores e objetivos venham à tona no mundo dos esportes e da cultura do corpo. Para isso, o autor busca referenciais teóricos de outras áreas que muito enriquecem seu pensamento, como as ciências da complexidade e a valorização do caos como elemento essencial para o exercício da criatividade.

Em seguida, publicamos algumas passagens do texto de introdução escrito por Patricio Casco, algumas passagens do prefácio de Jorge Dorfman Knijnik, professor-doutor da USP junto ao Bacharelado em Esporte, e o sumário do livro.

Introdução de Patricio Casco: algumas passagens

Num mundo em que a seriedade mórbida tem promovido tantas guerras, por que não brincar para promover a vida e a paz? Por que não criar novos jogos, tão dinâmicos quanto pacíficos? A criação e a prática de novos jogos elaborados por quaisquer comunidades ou culturas, a partir de suas práticas mais tradicionais, podem ser um pequeno antídoto para estes tempos desumanos de grande violência, barbárie, uniformização, globalização e virtualidade estéreis. Mas como? E por quê?

Criar e jogar são aspectos fundamentais do ser humano, mas não só dele. Todo o universo, a partir do caos ? nome que damos a uma ordem que não compreendemos, como nos ensinam as ciências da complexidade ?, joga, cria e recria-se, em ritmo e movimento incessante, por meio de padrões que se perpetuam e de hábitos que se transformam.

Podemos, por fim, imaginar e, assim, construir novos jogos apontando utopicamente em direções opostas aos jogos promovidos pela mídia e sua valorização da técnica, do rendimento, da produção e do consumo. Por que não?

Neste tipo de abertura, creio eu, reside uma real possibilidade de mudança e de transformação, o que pode ocorrer por meio da recuperação do conhecimento presente nos jogos tradicionais, de sua estrutura e de sua historicidade, e na subseqüente elaboração coletiva de novos jogos e de novos significados. Educar para a autonomia consciente e para a cidadania crítica ? pelo exercício prático da criatividade lúdica ?, tem um caráter emancipatório e dirige-se aos valores de paz, de cooperação e de respeito às diversidades.

Patrício Casco

Prefácio de Jorge Dorfman Knijnik: algumas passagens

Ao perceber que o jogo, exatamente por ter raízes e simbolizar a guerra, pode se transformar em veículo grandioso para a paz, Casco dá o pulo-do-gato. Caminha das raízes da criação dos jogos, caracterizando a importância dos jogos tradicionais de cada cultura, tanto para a experiência individual e simbólica no desenvolvimento de cada criança como também para a criação de laços comunitários e sociais essenciais. Com o conhecimento dos jogos tradicionais, e com aquilo que de forma absolutamente acertada e original, Casco chama de “maturidade lúdica” da criança ? ou seja, o aprendizado da cultura de jogo de sua comunidade, feito por meio dos jogos tradicionais aprendidos anteriormente ?, é que a criança passa a ter subsídios concretos para entrar em um processo que não pára, ou não deveria nunca mais parar! A criação de jogos, com valores morais e sociais, isto é, valores de inclusão, não-violentos, democráticos, participativos ? e, claro, lúdicos e divertidos.

A segunda parte do livro, contudo, é onde Casco realmente mostra toda a sua argúcia, ao conectar e reunir os discursos e propostas anteriormente apresentados com práticas educativas, mostrando não receitas nem fórmulas já prontas e perfeitas, mas sim aspectos fundamentais de seu trabalho cotidiano, os quais certamente serão reaproveitados e recriados por educadores comprometidos com a ludicidade infantil. A idéia da pesquisa sobre jogos tradicionais (com a inclusão de planilhas), a proposta de vários tipos de jogos com e sem equipes, com materiais simples e ocupações diferenciadas de espaços, todas essas e outras mais mostram a força concreta desse trabalho no cotidiano da educação. Quase no finalzinho do livro, um apetitoso lanche: uma seleção de “doze jogos de criação” elaborados pelos alunos desse incrível professor, jogos que me fizeram invejar essas crianças orientadas por docente tão especial…

Jorge Dorfman Knijnik, Prefácio

Sumário:

Introdução 13
PARTE 1 ? REFLEXÕES 17

A guerra como jogo, o jogo como guerra 19
O jogo como experiência social 26
Jogos tradicionais: as raízes da criação 29
Características dos jogos tradicionais 35
Focos de análise nos jogos tradicionais 39
Criar jogos 41
Valores e critérios desenvolvidos na criação de jogos 45
Inclusão e participação 45
Cooperação e competição 45
Flexibilidade e aplicabilidade de regras 50
Sistema de pontuação proposto 51
Nível de complexidade do jogo 53
Natureza do contato físico 54
Possibilidades estratégicas 56
Autonomia 57

PARTE 2 ? PRÁTICAS EDUCACIONAIS 59
Análise dos jogos tradicionais 61
Planilha de jogos 61
Modelo de lousa para uma aula com jogos tradicionais 62
Pesquisa de jogos tradicionais 64
Jogos e brincadeira sem equipes 65
Abre a geladeira e variações 66
Alerta 66
Amarelinhas 67
Ambulância 67
Aumenta-aumenta 68
Baleia (ou pescador) 68
Bater lata 69
Bichos misturados 69
Bola-mestre 70
Boliche 70
Boneco articulado (marionetes) 70
Cadeirinhas 71
Carimbos 71
Coelho sai da toca 72
Coletes mágicos 72
Corre-cutia 73
Corrente infinita 73
Detetive 74
Elefante colorido 74
Elástico pega-pega 75
Enigma 75
Estátuas 76
Figuras no chão 76
Gelo (pega-pega americano) 77
Mãe da rua 77
Marinheiros 78
Muralha chinesa 78
Nunca 3 (ou gato e rato) 79
Nunca 4 (corrente finita) 79
Pega-mímica (ou espelho) 79
Pega-pega ponte 80
Peteca 80
Pião 81
Pula-perna (nunca 2 ou gato e rato) 82
Pular corda (parlendas) 82
Pular sela 83
Quietinho 84
Rebatida 84
Rio de jacarés 84
Rio de piranhas 85
Rio vermelho 85
Rio campo mar 85
Robô 86
Sentinela 86
Seu-lobo-está? 87
Tartaruga 87
Jogos com equipes 88
Arremessobol 89
Base 4 89
Base 6 90
Bolão 91
Cabeçobol 91
Dez passes 92
Escadobol 92
Foothand 93
Garrafobol 93
Linha de mira 94
Linha de ajuda 95
Paredão 95
Pebolim humano 96
Pique-bandeira e variações 96
Queimada e variações 98
Queimanchete 100
Tabelobol 101
Taco (ou bétis) 102
Tapobol 104
Tchuquebol (ou tchoukball) 104
Tchuquevôlei 105
Tripebol 106

Processo de criação de jogos 107
Imaginação e sensibilização criativa 107
Planejamento e registro inicial 108
Prática do jogo 108
Reflexão e avaliação coletiva 109
Anexo 1 111
Anexo 2 112
Apêndice ? A criação de novos esportes 12
0
Glossário ? Para uma teoria morfogenética do desenvolvimento motor 123
Bibliografia 127
Notas 128
Sugestão de leitura 131
O autor 134

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