Selma Maria e os meninos quietos da cidade - Editora Peirópolis

Selma Maria e os meninos quietos da cidade

A autora de Um pequeno tratado de brinquedos para meninos quietos, nascido de viagens pelo sertão mineiro, volta seu olhar para a infância no espaço urbano e lança Um pequeno tratado de brinquedos para meninos quietos da cidade.

Lançado no 13o. Salão da FNLIJ, no Rio de Janeiro, e na Livraria da Vila, em São Paulo, o livro marca a estreia da ilustradora Nina Anderson, filha de Selma Maria.

Abaixo publicamos o prefácio de autoria da jornalista Gabriela Romeu.

 

PREFÁCIO

Geografia do (in)visível

É construindo uma geografia do (in)visível que Selma Maria desvenda vias lácteas que riscam o asfalto de uma cidade cinzenta – São Paulo, Hong Kong, Pequim, Nova York?

Poeta (in)quieta, autora de livros como Um pequeno tratado de brinquedos para meninos quietos, lá do sertão grande de João Guimarães Rosa, Selma agora versa sobre a infância urbana, que digere o caos diário, o congestionamento do “intestino preguiçoso das metrópoles”, como numa brincadeira de carrinhos enfileirados no tapete da sala.

É orgânica a cidade deste Pequeno tratado para meninos quietos da cidade. Viadutos, arranha-céus, ruas emaranhadas, vestidas de cinza e prata, quase bailam nos versos e nas saias de uma boneca. Cabeleira de menina é nuvem e se dissipa, vira água, cai como garoa, que pinga e pinga de um vestido-peneira. Ruas esburacadas se metamorfoseiam em canelas de crianças, ambas com seus remendos. Prédios se esticam como adolescentes explodindo de hormônios.

A cidade de Narciso – de Caetano – espelha a poesia. E a poesia reflete o morador, cidadão ou não, que é brinquedo e brincante, tudo ao mesmo tempo, como no jogo de faz de conta. Não há arquitetura opressora que resista ao léxico do brincar.

Neste tratado poético, versos e linhas dialogam intimamente, como em conversas segredadas entre mãe e filha enquanto se apagam as luzes das janelas dos prédios. Juntas, poeta e ilustradora vislumbram uma outra cidade – Ândria, Isidora, Pirra, Eufêmia?

Sim, vestimos o manto do imperador mongol Kublai Khan, que desvenda seu reino imaginário a partir das lentes fantásticas do viajante veneziano Marco Polo*. Pelos olhos de Selma, percorremos com a memória da infância uma cidade nada oculta – só esquecida – entre seus muitos cruzamentos.

*Referência à obra Cidades invisíveis, de Italo Calvino.

Gabriela Romeu é jornalista, editora da Folhinha e coordenadora do projeto Mapa do Brincar. Há mais de doze anos escreve sobre e para crianças e seu universo.

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