“Ultima flor do Lácio, inculta e bela..." - Editora Peirópolis

“Ultima flor do Lácio, inculta e bela…"

Falamos o português. Herdamos essa língua dos nossos colonizadores lusitanos. O português é uma língua sonora, bela, plástica, doce. A ela devemos a nossa formação. Com ela, aprendemos a ver o mundo, apreendemos realidades, desenvolvemos a nossa percepção, conhecemos a realidade que nos cerca, ganhamos identidade, tornamo-nos cidadãos.
A nossa língua nos forma, nos conforma, nos representa. Com ela, inserimo-nos nos mais diversos contextos de vida. Conhecer a origem da língua que falamos, seus percursos, seus processos constitutivos, seus meandros torna-se, portanto, mais do que uma curiosidade: é, indubitavelmente, uma necessidade.
“Aqueles poemas, escritos há tanto tempo, eram encantados, eram cantigas. A língua tinha mudado: era o galego-português, já bem parecido com a nossa doce língua portuguesa.” (p. 11)
Com uma linguagem inovadora tanto no trato com a palavra, como no projeto gráfico, chegou-me às mãos o novo livro de Susana Ventura. Este livro, certamente, com encanto, com magia, com ludicidade, se apresenta como um referencial inovador para o processo de ensino-aprendizagem, quando a proposta for apresentar a língua portuguesa ao nosso leitor incipiente.
Que lindo, Susana!… Nunca é demais falar sobre o nosso idioma, adentrar os domínios da palavra. Conviver com a palavra. Conhece-la em suas nuances, em seus desdobramentos. Chegar, através dela, à formação de usuários competentes (tanto na fala como na escrita), de novos leitores, despertar o interesse pela leitura, tornar essa leitura prazerosa, interessante, atual, isso tudo, com certeza, não é tarefa fácil. Eu me senti um menino lendo este texto. Embora tenhamos em mente, no ato da escrita, da elaboração, um público ideal, sabemos, também, que o bom livro não tem público pré-definido. Interessa a todos, tanto ao jovem quanto ao adulto. Gosto da maneira como você, Susana, nos incita à leitura, às descobertas daquilo inclusive que já sabemos, já descobrimos… Porque o que importa é o ‘como contar’, como despertar interesse, como tornar atraente e prazeroso aquilo que se conta… Saber contar é um privilégio, uma dádiva, um dom, uma luta… Lidar com as palavra (“Lutar com palavras / é a luta mais vã!…”)… É necessário sempre descobrir a magia do discurso, o encadeamento das palavras… palavra puxa palavra… Ah!, a pontencialidade do verbo… (“Ai, palavras, ai palavras / que estranha potência, a vossa!”)… E esse convívio com a palavra, esse domínio da palavra, Susana Ventura, você tem de sobra…
Somos seres comunicativos; e a comunicação, na realidade desse nosso país tão carente e, ao mesmo tempo, tão rico, ocorre através dessa nossa (tão maltratada quanto desconhecida) língua portuguesa…
As informações, para esse leitor iniciante, no seu texto, acontecem, presentificando um conto de fadas cujos fatos perderam-se no alvorecer de tempos distantes, no “era uma vez”… Palavras acordam e suscitam imagens… As imagens se traduzem (ou não) nas palavras… Um trânsito ininterrupto e inevitável nos leva de uma à outra. Contrapontos e diálogos, inevitáveis, se instauram. Textos que se complementam, que dialogam, que se contrapõem, são lindas as ilustrações… A história, domínio do passado, se presentifica. Elementos importantes na constituição desse passado dão margem para intervenções riquíssimas aos docentes que se aventurarem na leitura do livro com os alunos. A menção (na página 8) apenas aos primeiros nomes das personagens que protagonizaram os primórdios da cultura portuguesa (em diversas áreas) dá margem para o professor (leitor presumivelmente mais experiente, mais competente) ir apresentando aos alunos dados sobre cada uma das figuras mencionadas. Fiquei me imaginando a ministrar essas possíveis aulas… Pena que hoje eu esteja – como docente – tão distante dessa realidade!… Que lindo seria poder empreender com os nossos alunos essa excitante viagem às origens do nosso idioma, origens imersas nos mistérios dos mares (“nunca dantes navegados”) da época, na ambição dos reis, no fortalecimento dos mitos, na criação (necessidade autoexplicativa) de lendas!
A comunicação humana se viabiliza através de linguagens, linguagens que – sem compartimentações delimitadoras – perpassam todas as atividades humanas, sejam elas individuais ou coletivas, expressas pelos códigos verbais ou não-verbais. Mas, mesmo as expressões não-verbais, para serem apreendidas, decodificadas, num entrecruzamento imediato, necessitam do suporte verbal.

 

Texto de Joel Cardoso, professor da Universidade Federal do Pará

 

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