“Converso desenhando” – Entrevista com Nelson Cruz
Nessa entrevista, o escritor e ilustrador mineiro Nelson Cruz conversa sobre a sua nova obra, A profecia animal, e sua carreira.
Peirópolis: Nelson, vamos conversar um pouco sobre sua nova obra, A profecia animal. Como ela nasceu? O que o motivou a escrevê-la? Pode nos contar um pouco sobre a história?
Nelson Cruz: Das tantas lembranças que carrego em minha cabeça, uma eu não consigo esquecer: um passeio que fiz com amigos ao zoológico de Belo Horizonte no início dos anos 1980. Logo na entrada, me deparo com uma pequena e apertada jaula, totalmente inadequada para qualquer animal estar, e dentro dela um babuíno com o olhar mais entristecido e angustiado. Ele olha para mim e eu sinto sua dor de estar privado de sua vida, sua liberdade. Nunca esqueci aquele instante. Aquela cena foi suficiente para mais tarde surgir em mim essa história.
P: Neste livro, assim como em outros de sua autoria, você é autor do texto e ilustrações. Como seu deu a relação entre essas duas linguagens? Enquanto você escrevia, já pensava nas ilustrações?
NC: Nesse caso, a história e as ideias das ilustrações foram nascendo juntas. Ao longo do tempo, algumas ideias foram repensadas, retrabalhadas. Fazer e refazer faz parte do processo de criação.
P: Sobre as ilustrações deste livro, o que acha importante destacar sobre o processo criativo das imagens?
NC: Destaco nas ilustrações o humor que procurei estabelecer no traço para poder passar a condição dos animais que desejava retratar.
P: Você tem mais de 30 anos de carreira e, ao longo desse período, acumulou tanto premiações como indicações a importantes prêmios no mundo da literatura infantil, dentro e fora do Brasil. Em 2021, teve um livro infantil (em parceria com João Luiz Guimarães, Sagatrissuinorana, da Editora Ozé) premiado duas vezes pelo Jabuti, uma delas como melhor livro do ano, dentre todas as obras das diferentes categorias. Desde que começou sua carreira, o que você observa sobre o lugar da literatura infantojuvenil no mundo e no Brasil? Houve mudanças? Quais?
NC: Vejo que alguns ilustradores estrangeiros e brasileiros vêm criando narrativas com imagens artísticas e metafóricas cada vez mais envolventes. O processo de laboratório é constante, fora e dentro do país. Considero também que as discussões em torno do que seja o livro ilustrado, o livro álbum, vêm fazendo crescer o interesse por essa natureza de livro e conquistando os adultos. A consideração de autor de imagem para o ilustrador é bem importante no processo atual do livro ilustrado.
P: No ano passado, você foi indicado pela 3ª vez ao Prêmio Hans Christian Andersen, o que é um baita reconhecimento. A emoção é diferente a cada vez? De que modo essas indicações mexeram e mexem com você e com o seu trabalho de escritor e ilustrador?
NC: Além de ser muito agradecido a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) pela insistência em me indicar tantas vezes, sinto um estímulo carinhoso de muitas pessoas. Esse sentimento me estimula, me deixa feliz. Mesmo não sendo premiado, só de ser indicado me sensibiliza e me sinto ativo e acreditando que a decisão que tomei um dia de repensar a carreira e desenhar para o público jovem foi acertada.
P: Em geral, o que mais o mobiliza ao escrever para crianças e jovens?
NC: É que temos que mudar a forma de ver e avaliar a sociedade que criamos. E temos que fazer isso juntos: autores e leitores. O que estamos deixando como herança para os jovens é bem ruim. Trazer alguns temas como esse da convivência com os animais me mobiliza e anima. Mas, é apenas um dos temas. Há outros tantos a mais para conversar. É nessa hora que a ilustração me socorre e facilita a conversa, porque eu também preciso conversar e, nesse caso, converso desenhando… também.
Sobre o livro
A profecia animal
Nelson Cruz
R$69,00
19 x 23 cm • 48 páginas • 4 cores • brochura
ISBN 978-65-5931-379-2
Livro digital ISBN 978-65-5931-383-9
(KF8) e 978-65-5931-384-6 (ePUB)
Acontecerá um dia, em algum lugar do planeta: alguém, criança ou adulto, perceberá que algo incomum está acontecendo com os animais…
Nesta fábula ilustrada, Nelson Cruz imagina um momento em que animais de todas as espécies se aproximam uns dos outros em prol de um bem comum. Sem brigas ou estranhamentos, eles se unem para reivindicar mudanças urgentes em nosso mundo.
Ambientado em um planeta devastado pela ação humana, A profecia animal nos provoca a refletir sobre as viradas de chave necessárias para a sobrevivência de todos. Como seria recebida essa nova revolução dos bichos pelos seres humanos? Estaríamos dispostos a aceitar os protestos dos animais?
Com um texto poderoso e imagens belíssimas, o livro convida seus leitores a habitar, ao mesmo tempo, o terreno do sonho e da reflexão sobre a ética do cuidado e da atenção a todos os seres vivos. O resultado é uma obra que emociona e presenteia seus leitores com grandes doses de esperança — um chamado irrecusável, porque necessário e permeado de beleza, atestando que a arte existe também para nos salvar.
Sobre autor
Nelson Cruz é artista plástico, ilustrador e escritor. Natural de Belo Horizonte, atualmente reside e trabalha em Santa Luzia, MG. Ao longo de 35 anos de carreira no mercado editorial, recebeu diversos prêmios, entre eles os da Associação Paulista de Críticos de Arte, Academia Brasileira de Letras, Biblioteca Nacional, Prêmio Monteiro Lobato, Revista Crescer, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e o selo Cátedra Unesco de Literatura da PUC-Rio. Em 2021, seu livro Sagatrissuinorana, em parceria com João Luiz Guimarães e publicado pela Editora ÔZé, recebeu o Prêmio Jabuti nas categorias de Melhor Livro Infantil e Melhor Livro do Ano. Em 2020 e 2024, foi indicado pela FNLIJ como representante brasileiro ao Prêmio Hans Christian Andersen de Ilustração, sendo selecionado como finalista nesta última edição.
Além de A profecia animal, Nelson Cruz é autor de texto e ilustração de dois outros livros da Peirópolis: A árvore do Brasil (2009) e A cadeira do rei (2020).
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